Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
Quem quiser que compre sua vacina
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Foto: Fotos Públicas – Paulo

Não existe lucro sem exploração do trabalho. Sendo assim, algumas das maiores empresas do Brasil resolveram se unir para comprarem de forma direta 33 milhões de doses de vacina contra a covid-19. Dessas 33 milhões de doses, metade seriam doadas ao SUS, e a outra metade para uso dos donos, trabalhadores e familiares dessas empresas.

Aparentemente, parece uma ação cidadã das mais nobres. Além de cuidarem da imunização dos seus, teriam a generosidade de doar 16,5 milhões de doses para o SUS utilizar no Programa Nacional de Imunização. O que seria suficiente para imunizar 8,25 milhões de pessoas. Caridade para avalizar a imoralidade.

Por trás dessa ação está uma tentativa clara de restabelecer a volta da produção em suas atividades de forma descolada do processo promovido pelo Governo Federal. Fica claro que aquilo que já se dizia no século XIX, sobre as relações entre lucro e exploração, foram escancaradas diante da necessidade de fazer voltar o trabalhador as suas funções sem os limites sanitários que a covid obriga.

A tentativa dos empresários, que para alguns parece louvável, (coloquem nessa lista o Presidente Bolsonaro e o Ministro da Economia Paulo Guedes) estabelece novos parâmetros para as obrigações do Estado Brasileiro. Quando se busca alternativas por fora do SUS, fica claro que a eficiência da gestão pelo Governo Federal é deficiente e temerária. Quando o próprio presidente e seu ministro da Economia apoiam isso, evidenciam que não têm dimensão do papel do Estado, nem que direitos universais não podem estar vinculados ao poder de compra. Pior ainda quando esse poder tem por objetivo único restabelecer seus níveis de produção, lucro e consequente exploração.

Teríamos um Brasil à mercê da ineficiência governamental e um outro que compra seu direito de ficar alheio aos problemas de toda a sociedade. Compra essa, muitas vezes, feita com dinheiro público, oriundo de linhas de crédito subsidiadas de bancos estatais. Nessa ação está implícita a visão privatista do Governo Bolsonaro, que a vida não é um direito, mas sim um bem que terá quem puder comprar. Também fica claro, quando o próprio Governo Federal incentiva a compra de vacinas por empresas, que atender a todos não é prioridade. 

Em suma, aquilo que ao capital servir e que seja em prol da retomada do processo de exploração, que se deixe fazer. Ao público que não convir ao capital, nem como exército excedente, que se deixe morrer. Taokei?

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