Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Salve Exu e o Brasil em Tóquio
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(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

O Brasil em Tóquio é pura representatividade. Por mais que se repitam a cada ciclo olímpico os textos clichês em que todos os brasileiros estão unidos enquanto nação e representados pelos atletas, essa representação sempre reflete mais o êxito das elites, salvo poucas exceções. Nossa diversidade nunca esteve tão evidente quanto nesta edição dos Jogos Olímpicos.

Basta passar a vista na seleção brasileira de vôlei masculino para perceber que a modalidade deixou de ser hegemônica entre branquelos. Ademais, é a mesma equipe que, apesar de ser em sua maioria composta por conservadores na política, tem entre seus integrantes um atleta gay assumido. Douglas Souza é a cara do Brasil alegre e corajoso, reprimido entre tantos que se mantêm presos dentro de seus armários.

Os gargalos sociais continuam. O esporte ainda é mais fácil para quem carrega um histórico de privilégios. A diferença da representação do Brasil nos Jogos de Tóquio para as edições anteriores das Olimpíadas está além da diversidade racial. Nossa cultura está representada em suas mais distintas formas.

O Brasil dos Jogos de Tóquio é o país de Paulinho, que saúda Exu, a divindade mensageira das religiões afro, em plena seleção de futebol, antes mesmo do início da competição, e, em campo, homenageia Oxóssi, o deus caçador, na comemoração de um gol.

É o país que tem ícones nordestinos como Rayssa Leal e Italo Ferreira. Esportes antes marginalizados entraram para a história das conquistas brasileiras. Até quem torce o nariz para skate e surfe vai ter que engolir as medalhas olímpicas conquistadas pelos brasileiros. Os conservadores que preferem escolher as modalidades esportivas para seus filhos e netos entre aquelas que garantam mais status sempre estarão por aí, pois isso também faz parte da diversidade que compõe a nação. No entanto, jamais poderão novamente rotular skatistas e surfistas como “vagabundos”.

O Brasil dos Jogos de Tóquio é o país que atropela o preconceito linguístico na transmissão de TV, em rede nacional, quando vaza a conversa entre a dupla do vôlei de praia masculino no momento em que Alison tenta tranquilizar seu parceiro Álvaro Filho com um sonoro “calma, boceta!”. O verbete causa arrepios nos mais reacionários, mas se está na boca do povo, assim como é listado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, tentar calar é o autoritarismo ignorante travestido da mais falsa elegância.

Somos belos por tudo aquilo que alcançamos em toda nossa diversidade: plural, territorial, cultural, de raça, gênero, credo e tudo o mais.

O Brasil dos Jogos Olímpicos de Tóquio é skate, surfe, funk, macumba e favela. É o país dos guetos, da repressão, da resistência, da resposta política com uma delegação que desfilou na abertura com apenas quatro integrantes, mostrando que se importa mais com a pandemia de covid-19 do que o próprio presidente da República.

O Brasil em Tóquio é Rebeca Andrade, uma atleta negra que mostrou ao mundo, exatamente em um meio elitista e conservador, a beleza do Baile de Favela.

Texto publicado originalmente na edição de 30 de julho de 2021 do jornal A União.

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