Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Zé Maranhão não merece o grasnar dos abutres
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Senador José Maranhão faz juramento na tribuna do Senado (Foto: Pedro França/Agência Senado)

A morte do senador e ex-governador da Paraíba, José Maranhão (MDB), na segunda-feira (8), vítima de complicações da covid-19, enlutou o estado. Naturalmente, foi pauta em todos os programas jornalísticos, e pela relevância de sua carreira política, era previsível que não se falasse em outro assunto, ao menos até o fim do velório.

Com mais tempo na programação para política, as rádios paraibanas tiveram seus espaços ocupados por homenagens. Eu pulava, ontem, de estação em estação, para ouvir os diversos pontos de vista sobre o legado de Maranhão.

Parei ao ouvir uma bancada de radialistas contando histórias que relacionavam José Maranhão e a aviação, uma de suas paixões. De repente a conversa muda o tom e eles passam a fazer galhofas com o ex-governador por conta de seu modo de falar algumas palavras. Não vou identificá-los, pois esse tipo de posicionamento busca palco.

A mulher na bancada afirmava saber que José Maranhão era um homen culto, porém se dizia profundamente intrigada pela forma como ele pronunciava a palavra “tranquilo”, pois falava trankilo. A partir daí, o programa descambou para o depreciativo. O mediador ainda tentou remendar, dizendo que com a queda do trema, passou a ser certo, o que não é, porém não justifica a menção. Continuaram a mangar, até que cansaram. Foi uma deselegância sem tamanho, absolutamente descabida.

Se não tivessem nada a dizer de bom a respeito do político José Maranhão, ou mesmo não quisessem, poderiam se limitar apenas aos seus feitos enquanto figura pública. Como gestor, há pontos bons e ruins a serem observados, não vêm ao caso, mas seria um caminho.

Um doutor em física nuclear pode querer sair do centro de pesquisa onde trabalha, parar no caminho de casa e pedir um pão com “mortandela”. Assim mesmo, chamando alto, “mortandela”, do jeito que pedia na infância junto com os primos, quando ganhava um troco e apostava corrida até a padaria. Isso não faz dele menos pesquisador. E se, um dia, precisar escrever “mortandela” em um artigo científico, ele vai lá e respeita a norma culta, mortadela.

Fala remete à origem, é algo particular demais para se julgar de forma ampla. Poderia ser por limitação, ou mesmo por vontade. Fato é que o jeito de falar “tranquilo” não fazia de José Maranhão um político melhor ou pior.

Atacar a fala no intuito de rebaixar alguém é, antes de tudo, um ato de arrogância intelectual. A tentativa de depreciar José Maranhão por conta da forma que ele falava uma ou duas palavras diz mais sobre o caráter de quem aborda esse tipo de tema do que da eloquência do ex-governador.

José Maranhão era um cidadão extremamente respeitoso. Educado, atencioso, gentil até com seus adversários políticos. Nem Maranhão, nem a Paraíba merecem esses abutres ocupando espaços de mídia.

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