O mundo da fotografia perdeu hoje um de seus maiores expoentes, Sebastião Salgado, falecido aos 81 anos. O fotógrafo brasileiro, conhecido por seu olhar humanista e por imagens em preto e branco que capturam a essência da condição humana e da natureza, deixa um legado eterno em suas obras. Com uma carreira marcada por projetos monumentais, Salgado transformou a fotografia documental em uma ferramenta de reflexão social e ambiental. A seguir, destacamos cinco de seus livros mais importantes, que eternizam sua visão única e seu compromisso com a dignidade humana e a preservação do planeta.
Em Trabalhadores, Sebastião Salgado investe mais uma vez a sua perícia técnica num projeto de fôlego que registra com olhar solidário o trabalho de homens e mulheres cujo ânimo se sobrepõe às condições mais duras. Reunindo 350 fotografias em preto-e-branco, acompanhadas de um texto introdutório elaborado em parceria com o escritor Eric Nepomuceno, o livro retrata diversas atividades que são sinônimo de trabalho penoso: o drama da tradicional pesca do atum na Sicília, a obstinação de garimpeiros e trabalhadores rurais no Brasil, a paisagem dantesca de uma mina de enxofre na Indonésia, famílias indianas envolvidas na construção de barragens para irrigação, combatentes de incêndios colossais em poços de petróleo no Kwait, resultando na narrativa iconográfica de uma verdadeira epopéia global. Indo além da mera captação de imagens, Salgado confere dignidade ao dia-a-dia das pessoas presas ao círculo estreito da necessidade, de uma perspectiva arqueológica que é completada pelos textos acrescentados às fotos, com informações históricas e factuais. O próprio Sebastião Salgado define a sua prática como “fotografia militante” feita para “compreender melhor os homens”, o que se confirma neste livro, homenagem ao trabalho realizado com a força do corpo em imagens de beleza e veracidade eloqüentes.
Fruto de seis anos de trabalho em mais de 40 países, Êxodos é um retrato comovente dos movimentos migratórios forçados por guerras, fome e crises econômicas. As imagens revelam a dor, a coragem e a esperança de milhões de pessoas deslocadas, consolidando Salgado como um cronista visual das tragédias e aspirações do século 20. A obra é um marco por sua capacidade de humanizar crises globais, convidando o leitor a refletir sobre a condição humana.
Considerado um dos projetos mais ambiciosos de Salgado, Gênesis é o resultado de oito anos de viagens por regiões intocadas do planeta, como a Amazônia, a Antártica e o Deserto do Saara. O livro celebra a beleza da natureza e dos povos que vivem em harmonia com ela, funcionando como um manifesto pela preservação ambiental. Suas 350 fotografias em preto e branco, divididas em cinco capítulos, são um convite à contemplação e à responsabilidade ecológica.
Iniciado em 1977 e concluído após sete anos, Outras Américas documenta a vida de povos indígenas e camponeses da América Latina, do Nordeste brasileiro às montanhas do Chile. As imagens, descritas pelo jornalista Alan Riding como representações de um mundo unido por “nascimento, família e morte”, capturam a essência de comunidades marginalizadas. A obra combina estética apurada com um forte senso ético, destacando as lutas e a dignidade dos destituídos.
Dedicado aos povos indígenas da Amazônia brasileira, Amazônia é uma celebração da cultura, dos costumes e da biodiversidade da maior floresta tropical do mundo. Durante seis anos, Salgado retratou a floresta, seus rios e habitantes, enfatizando o papel das comunidades indígenas como guardiãs do meio ambiente. A obra, acompanhada de textos que detalham a relação do fotógrafo com os povos fotografados, é um apelo à preservação de um ecossistema ameaçado.
Sebastião Salgado, com sua “fotografia militante”, como ele próprio definia, deixa um vazio no mundo da arte, mas suas obras continuam a inspirar reflexões sobre justiça social, meio ambiente e humanidade. Seus livros são testemunhos de uma carreira dedicada a dar voz aos invisíveis e a proteger a Terra.