O sambista Arlindo Cruz, de 66 anos, está prestes a receber alta médica após ficar internado por mais de 50 dias em um hospital do Rio de Janeiro. De acordo com informações confirmadas por Babi Cruz, esposa do artista, ao jornal Dia, a liberação deve ocorrer até esta sexta-feira (20). Cruz foi hospitalizado em abril após ser diagnosticado com pneumonia e passou por uma série de exames no Hospital Barra D’Or, localizado na Zona Oeste da capital fluminense.
Agora, uma estrutura de assistência médica será montada na residência do músico para garantir que ele tenha todo o suporte necessário durante a recuperação. Arlindo Cruz já enfrentou problemas graves de saúde no passado: em 2017, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ficou internado por um ano e três meses. Desde então, passou por pelo menos 14 cirurgias, cinco delas na cabeça. Em 2023, o artista foi homenageado pela escola de samba Império Serrano durante o desfile de Carnaval na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.
Nascido em 14 de setembro de 1958, no coração de Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, Arlindo Domingos da Cruz Filho, conhecido como Arlindo Cruz, é um dos maiores expoentes do samba e pagode brasileiros. Cantor, compositor e instrumentista, sua carreira abrange mais de quatro décadas, marcadas por contribuições que transformaram o cenário do samba, popularizando o gênero e dialogando com novas gerações. Com mais de 700 composições gravadas e uma influência que transcende fronteiras, Arlindo é reverenciado como um ícone da música popular brasileira (MPB).
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Filho de Aracy Marques da Cruz, que tocava pandeiro, e Arlindo Domingos da Cruz, um músico amador que dominava o cavaquinho, Arlindo cresceu imerso na cultura do samba. Seu pai, amigo de sambistas como Candeia, promovia rodas de samba em casa, onde o jovem Arlindo teve seu primeiro contato com o gênero. Aos sete anos, ganhou seu primeiro cavaquinho, aprendendo com o pai e, aos 12, já tirava canções de ouvido, ao lado do irmão, o compositor Acyr Marques. Sua formação musical foi complementada por dois anos de estudos de teoria, solfejo e violão clássico na escola Flor do Méier, na Zona Norte do Rio.
Aos 15 anos, Arlindo mudou-se para Barbacena, Minas Gerais, para estudar na Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Mesmo distante do Rio, não abandonou a música, participando do coral da escola e vencendo festivais em Barbacena e Poços de Caldas. Foi nesse período que começaram a surgir suas primeiras composições, revelando um talento precoce.
De volta ao Rio, Arlindo passou a frequentar as rodas de samba do Cacique de Ramos, um celeiro de talentos que revelou nomes como Jorge Aragão, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho. Em 1981, com apenas 23 anos, ele teve 12 composições gravadas por diversos intérpretes, incluindo “Lição de Malandragem” e “Novo Amor”, esta última um sucesso na voz de Alcione. Sua habilidade como compositor chamou a atenção, e, com a saída de Jorge Aragão do grupo Fundo de Quintal, Arlindo foi convidado a integrar a formação, onde permaneceu por 12 anos.
No Fundo de Quintal, Arlindo consolidou o pagode como gênero, tocando banjo e cavaquinho e compondo clássicos como “Seja Sambista Também”, “Só Pra Contrariar” e “Castelo de Cera”. Sua parceria com Sombrinha e Almir Guineto foi fundamental para o sucesso do grupo, que lançou álbuns emblemáticos como Raça Brasileira (1985) e O Show Tem que Continuar (1988). Além disso, Arlindo é reconhecido por popularizar o uso do banjo no samba, influenciando gerações de músicos.
Em 1993, Arlindo deixou o Fundo de Quintal para seguir carreira solo, lançando o álbum Arlindinho, uma homenagem ao filho Arlindo Neto. No ano seguinte, formou uma dupla com Sombrinha, com quem gravou cinco álbuns entre 1996 e 2002, incluindo Da Música (1996), que vendeu 60 mil cópias. Como compositor, suas canções foram gravadas por artistas como Beth Carvalho (“Grande Erro”), Zeca Pagodinho (“Bagaço da Laranja”) e Maria Rita (“O Que É o Amor”), totalizando mais de 700 composições registradas.
Arlindo também se destacou como sambista de carnaval, vencendo 19 disputas de samba-enredo para escolas como Império Serrano, Vila Isabel e Grande Rio. Em 2012, compôs “Tatu Bom de Bola”, tema oficial do mascote da Copa do Mundo de 2014, e, em 2016, a canção-tema do Rio para as Olimpíadas, em parceria com Rogê e Arlindinho.
Seu trabalho cultural vai além da música. Arlindo dialogou com gêneros como hip-hop, colaborando com Marcelo D2, e promoveu as rodas de samba, como o Pagode do Arlindo, em Cascadura. Em 2009, o DVD MTV ao Vivo: Arlindo Cruz celebrou sua trajetória, enquanto Batuques do Meu Lugar (2012) contou com participações de Caetano Veloso e Alcione.
Em 17 de março de 2017, Arlindo sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, que interrompeu sua carreira. O incidente ocorreu enquanto ele se preparava para um show em Osasco, São Paulo, com o filho Arlindinho, no projeto Pagode 2 Arlindos. Após mais de um ano internado, recebeu alta em julho de 2018 e, desde então, vive com sequelas, sob cuidados médicos e familiares. Apesar dos desafios, Arlindo demonstrou sinais de melhora, voltando a falar algumas palavras e emocionando-se com homenagens, como o enredo “Lugares de Arlindo”, da Império Serrano, em 2023.
A alta médica de Arlindo após 50 dias internado por pneumonia coincide com o pré-lançamento de sua biografia, O Sambista Perfeito, escrita por Marcos Salles. O livro, que será lançado oficialmente em 7 de julho na Livraria da Travessa, no Rio, reconta sua trajetória de superação, desde a infância humilde até o estrelato, com depoimentos de artistas como Zeca Pagodinho e Maria Bethânia.
Casado desde 2012 com Babi Cruz, com quem tem dois filhos, Arlindinho e Flora Cruz, Arlindo segue como símbolo de resistência e talento. Sua obra, que inclui sucessos como “Meu Lugar”, “O Show Tem que Continuar” e “Ainda É Tempo Pra Ser Feliz”, permanece viva, celebrada por fãs e artistas. Como disse Caetano Veloso, “Arlindo é gênio”. Seu legado, construído com samba, luta e generosidade, continua a inspirar a música brasileira.
Com informações da Folha de S.Paulo.