A atriz francesa Brigitte Bardot faleceu neste domingo (28), aos 91 anos, conforme confirmado pela fundação que leva seu nome e que se dedica ao bem-estar animal. A morte ocorre após duas internações recentes da artista, que há décadas vivia reclusa em sua propriedade na cidade de Saint-Tropez, na Riviera Francesa.

Nascida em Paris em 28 de setembro de 1934, em uma família burguesa, Brigitte era filha de Louis Bardot, industrial que também se dedicava à poesia e ao cinema amador, e de Anne-Marie, apaixonada por moda e balé. Teve uma irmã, Marie-Jeanne, nascida em 1938. A infância foi marcada por uma educação rigorosa, mas confortável, com viagens e produção de filmes caseiros em família. Desde pequena, Brigitte estudou balé e chegou a cogitar seguir carreira na dança.
Sua trajetória pública começou aos 14 anos, quando sua mãe a levou a trabalhar como modelo para o chapeleiro Jean Barthet, desfilando ao som de Tchaikovsky para o Lago dos Cisnes. O trabalho abriu portas para sessões fotográficas em revistas femininas, como Les Cahiers du Jardin des Modes, Les Veillées des Chaumières e Modes et Tricots, até chegar à prestigiada Elle. Aos 15 anos, em maio de 1949, Brigitte apareceu pela primeira vez na capa da publicação, fato que se repetiria diversas vezes. Com 1,68 m, olhos grandes, cabelo longo e postura impecável graças ao treinamento em balé, sua beleza chamou atenção imediata.
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Aos 16 anos, o diretor Marc Allégret a convidou para uma audição cinematográfica. Embora não tenha conseguido o papel, conheceu Roger Vadim, então com 22 anos, iniciando um relacionamento que os pais tentaram impedir. Após ameaças de suicídio por parte da jovem, a família cedeu, mas exigiu que o casamento esperasse a maioridade. Em 21 de dezembro de 1952, aos 18 anos, Brigitte casou-se com Vadim na igreja Notre-Dame de Grâce de Passy, em Paris. A partir dali, sentiu-se livre para seguir seus desejos.
Sua carreira no cinema ganhou impulso com papéis iniciais, mas foi o filme “E Deus criou a Mulher”, de 1956 — estreia de Vadim na direção —, que a lançou ao estrelato mundial. Contracenando com Jean-Louis Trintignant e Curt Jurgens, interpretou uma adolescente transgressora em uma pequena cidade, gerando enorme sucesso e polêmica. O longa foi um dos dez mais populares no Reino Unido em 1957 e, nos Estados Unidos, tornou-se o filme estrangeiro de maior bilheteria até então, arrecadando quatro milhões de dólares, embora tenha sofrido censura em algumas salas.
Durante as filmagens, Brigitte iniciou um relacionamento com Trintignant, levando ao divórcio de Vadim. Apesar da separação, continuou trabalhando com o ex-marido. Filmes como “Vagabundos ao Luar” e “Um caso perdido” consolidaram sua imagem de símbolo sexual e a tornaram, em 1958, a atriz mais bem paga da França.
BB, como ficou conhecida, representou uma feminilidade moderna e livre, influenciando moda e comportamento. Meninas copiavam suas sapatilhas, penteados e a famosa “pose Bardot” — sentada com as pernas cruzadas cobrindo os seios, fotografada em 1960. A filósofa Simone de Beauvoir dedicou-lhe o ensaio “Brigitte Bardot e a síndrome de Lolita”, descrevendo-a como “uma força da natureza, naturalmente transgressora, uma locomotiva das histórias femininas”.
Entre seus maiores sucessos estão “A Verdade” (1960), de Henri-Georges Clouzot — maior bilheteria de sua carreira na França, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e vencedor do Globo de Ouro na categoria —, “Vida privada” (1962), de Louis Malle, “O Desprezo” (1963), de Jean-Luc Godard, “Viva Maria!” (1965), também de Malle, e “Masculino-Feminino” (1966), novamente de Godard. Contracenou com James Stewart, Sean Connery e James Dean, e teve sucesso como cantora ao lado de Serge Gainsbourg. De 1969 a 1972, foi o rosto oficial de Marianne, símbolo da República Francesa.
Sua vida pessoal, porém, teve momentos difíceis. Após o nascimento de seu único filho, Nicolas, de uma gravidez não planejada, enfrentou depressão pós-parto. Durante as filmagens de “A Verdade”, sofreu com os métodos intensos de Clouzot — a quem chamou de “demoníaco” — e viveu um romance com Sami Frey, que resultou no fim de seu segundo casamento, com Jacques Charrier. Perdeu a guarda do filho no divórcio e nunca conseguiu reconstruir uma relação próxima com ele. Antes da estreia do filme, tentou suicídio.
Em 1973, Brigitte Bardot encerrou a carreira cinematográfica após 45 filmes e mais de 70 canções em 21 anos de atividade. Mudou-se definitivamente para Saint-Tropez e fundou, em 1987, a Fundação Brigitte Bardot, dedicada à defesa dos animais.
Nos anos seguintes, gerou controvérsias com declarações públicas. Em 1992, casou-se com Bernard d’Ormale, ex-conselheiro de Jean-Marie Le Pen, e manifestou apoio a Marine Le Pen em eleições. Em 2004, foi condenada a pagar multa de cinco mil euros por comentários sobre muçulmanos em seu livro “Um grito no silêncio”, acusada de incitar o ódio racial. Também foi criticada por posicionamentos em relação ao movimento #MeToo.
Em 2023, ao ser consultada sobre uma possível série sobre sua vida, escreveu uma carta expressando surpresa com o interesse contínuo do público. “Eu me surpreendia sempre com o interesse que as pessoas tinham por mim”, escreveu, questionando por que, tantos anos após deixar a carreira, “não a deixavam em paz de uma vez por todas”.
Brigitte Bardot permanece um dos maiores ícones do cinema francês, símbolo de uma era de transformação cultural e sexualidade livre nas telas.
Com informações da CNN.