O Banco do Brasil (BBAS3) divulgou resultados do segundo trimestre de 2025 (2T25) que confirmaram as expectativas pessimistas do mercado, com um lucro líquido de R$ 3,8 bilhões, representando uma queda de 60% em relação ao ano anterior e abaixo do consenso já revisado para baixo. A combinação de revisões do guidance, corte nos dividendos e aumento das provisões devido à piora na qualidade de crédito contribuiu para o cenário negativo, embora analistas apontem que os números já estavam parcialmente precificados. Na abertura do mercado desta sexta-feira (15), às 10h10 (horário de Brasília), as ações BBAS3 caíam 2,22%, cotadas a R$ 19,41. Após um leilão, a desvalorização diminuiu, alcançando 0,91% às 10h21, com o preço a R$ 19,67.
A deterioração da qualidade de crédito foi o principal fator para os resultados, com o retorno sobre o patrimônio (ROE) caindo para 8,2% (-7,5 pontos percentuais na comparação trimestral e -12,8 pontos percentuais ano a ano), o menor nível desde 2016 e o mais baixo entre os grandes bancos incumbentes. “ A inadimplência continuou sendo um grande peso, embora a gestão tenha adotado um tom mais otimista em vídeo divulgado junto aos resultados”, avaliaram Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, analistas da XP Investimentos.
Embora os resultados fracos fossem esperados, dados do Banco Central divulgados em maio indicavam um trimestre ainda pior, com estimativas iniciais de lucro em torno de R$ 5 bilhões. Nos últimos 10 dias, as projeções dos investidores já haviam sido ajustadas para cerca de R$ 4 bilhões em lucro e 10% de ROE. Com R$ 1,6 bilhão registrados em junho, contra R$ 500 milhões em maio, o banco mostrou sinais de recuperação, fechando o trimestre próximo ao consenso revisado.
Leia também
Influenciador Hytalo Santos é preso em São Paulo por suspeita de exploração de menores
O Banco do Brasil revisou suas projeções para 2025, ajustando a faixa de lucro líquido para R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões, alinhada às expectativas do mercado. Considerando os R$ 11,2 bilhões acumulados no primeiro semestre, o ponto médio de R$ 23 bilhões sugere lucros trimestrais entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões no segundo semestre, um ritmo superior ao do 2T25. A carteira de crédito deve crescer entre 3% e 6%, ante a previsão anterior de 5,5% a 9,5%. A margem financeira bruta atingiu R$ 25,06 bilhões, com queda de 1,9% ano a ano, mas alta de 4,9% na comparação trimestral, impulsionada por receitas financeiras (+7,6% em operações de crédito e +13,9% em tesouraria), que superaram o aumento de 11,9% nas despesas financeiras.
Durante a teleconferência com analistas, o Banco do Brasil destacou que a carteira de crédito agrícola foi a principal responsável pelo aumento das provisões, com inadimplência persistente no agronegócio, que atingiu 3,49% (+0,45 pp trimestralmente e +2,17 pp anualmente), especialmente nas cadeias de soja e milho no Centro-Oeste. Apesar da ausência de quebras de safra relevantes, a queda nos preços e a alavancagem dos clientes elevaram atrasos e pedidos de recuperação judicial. A inadimplência também cresceu em pequenas e médias empresas (PMEs), especialmente em empréstimos renegociados, e em pessoas físicas. O custo de crédito disparou 104% ano a ano e 57% trimestralmente, alcançando R$ 15,9 bilhões. “Os resultados poderiam ter sido piores não fosse o aumento das baixas contábeis durante o trimestre”, observou o Bradesco BBI.
O banco está ajustando sua estratégia, tornando-se mais seletivo no crédito agrícola e reduzindo o guidance para esse segmento, enquanto aumenta as expectativas para empréstimos consignados a pessoas físicas. A inadimplência de curto prazo no agronegócio subiu de 4,1% para 5,5% em 30 dias, indicando que o custo de crédito no 3T25 deve permanecer elevado. Para mitigar riscos, o banco está migrando garantias de hipotecas para alienação fiduciária. A receita de tarifas segue estável, com foco em tarifas de estruturação, apesar de impactos regulatórios. A nova resolução 4.966, que exige reconhecimento de receitas de operações em estágio 3 pelo regime de caixa, também foi mencionada como desafio.
O Banco do Brasil reduziu o payout (percentual de dividendos distribuídos) de 45% para 30%, uma medida conservadora para preservar capital frente aos resultados fracos e ao consumo regulatório adicional estimado em 1 ponto percentual no índice de capital para 2026. O dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação) ficou em cerca de 6%. “ Assumindo o ponto médio do guidance, o banco está sendo negociado a cerca de 4,8 vezes o P/L, acima da sua média histórica, sugerindo espaço para novas revisões para baixo. Reiteramos nosso rating de neutro”, afirmou a XP Investimentos. O analista Evandro Medeiros, da Suno Research, destacou a perspectiva de dividendos modestos em 2025. “Assumindo um lucro de R$ 20,4 bilhões e um payout de 30%, nos deparamos com um dividend yield de 5,4%”, pontuou.
O balanço também incluiu R$ 1,2 bilhão em despesas não recorrentes com o Programa de Transação Tributária (PTI), relacionadas a contribuições previdenciárias sobre valores de PLR, quase compensadas por um ganho de R$ 1,1 bilhão, resultando em um impacto líquido de -R$ 72 milhões. “Certamente um trimestre fraco, mas de certa forma esperado, e a nova projeção pode amenizar a pressão. Permanecemos cautelosos, buscando maior visibilidade sobre as tendências de piora da qualidade de crédito, mas não esperamos uma reação negativa significativa”, avaliou o Itaú BBA. A Genial prevê que o segundo semestre de 2025 terá lucro ligeiramente superior ao primeiro, com o 3T25 semelhante ou um pouco melhor que o 2T25, e o 4T25 mais próximo do 1T25.
Com informações do portal InfoMoney.