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Ambipar despenca 45% no pregão e acumula perda de 88% em um mês: crise de confiança abala investidores
Termômetro da Política
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As ações da Ambipar (AMBP3), empresa especializada em serviços de emergência ambientais, registraram nova queda expressiva de 45,82% no pregão desta sexta-feira (3) da bolsa de valores, cotadas a R$ 1,49 às 13h36, após despencarem 61,48% na véspera. Em apenas um mês, a desvalorização acumulada chega a 88%, refletindo uma grave crise de confiança dos investidores, desencadeada por uma série de eventos negativos, incluindo supostas irregularidades em um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) e um pedido de proteção contra credores.

Ações da Ambipar despencaram no pregão anterior
Ações da Ambipar despencaram no pregão anterior (Foto: Divulgação/Ambipar)

A crise teve início com a saída do diretor financeiro da companhia, seguida por catalisadores mais recentes que intensificaram as preocupações do mercado. Um dos principais pontos de tensão é a existência de supostas irregularidades em um FIDC, onde, segundo o site Pipeline, partes relacionadas à Ambipar operam tanto cedendo direitos creditórios quanto emprestando dinheiro com esses direitos como colateral. A empresa afirma que boa parte de seu caixa está nesse veículo, o que levantou dúvidas sobre sua liquidez.

Pedido de proteção e disputas judiciais

No final do último mês, a Ambipar entrou com um pedido de tutela cautelar no Rio de Janeiro, buscando proteção emergencial contra pressões de credores que poderiam acionar cláusulas de vencimento antecipado (cross default), obrigando a companhia a quitar mais de R$ 10 bilhões imediatamente. A Justiça do Rio concedeu a suspensão de cobranças e execuções por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. “Esse processo não configura ainda uma recuperação judicial, mas pode ser um passo anterior caso não haja acordo com credores”, explicou a XP Investimentos, destacando que a empresa busca tempo para negociar.

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No entanto, a decisão judicial enfrenta contestações. O Banco Sumitomo questionou a proteção concedida, alegando que a Ambipar usou contratos específicos para blindar 353 sociedades e apontando que a empresa declara possuir R$ 4,7 bilhões em caixa, dos quais R$ 2 bilhões em liquidez imediata – números colocados em xeque pelas supostas irregularidades no FIDC. Além disso, bancos como ABC Brasil, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Sumitomo Mitsui e Itaú contestam a jurisdição do processo, argumentando que a sede da holding está em São Paulo, onde se concentram o conselho e a maior parte das receitas.

Reestruturação de dívida e risco de recuperação judicial

Para enfrentar a crise, a Ambipar contratou a BR Partners para assessorar a reestruturação de sua dívida, após negociações frustradas com a Seneca Evercore. Paralelamente, um grupo de bondholders começou a se organizar para iniciar conversas com a companhia. Max Mustrangi, CEO da Excellance e especialista em reestruturação de empresas, considera a recuperação judicial iminente. “As dívidas da Ambipar ficaram maiores nos últimos anos e mesmo com as ações em alta em 2024, os indicadores financeiros só pioraram”, avaliou. “É muito difícil que eles consigam colocar tanto dinheiro para cobrir esse rombo e se reestruturar sem que exista um pedido de execução de dívida. A RJ aqui é iminente e deve vir nos próximos meses”, analisou.

A agência de classificação de risco Fitch alertou que, caso a Ambipar anuncie formalmente um plano de reestruturação de dívida, suas classificações podem ser rebaixadas para ‘RD’ (inadimplência restrita) ou até ‘D’ (default), em caso de recuperação judicial. A S&P Global Ratings já rebaixou os ratings de crédito da empresa, em escala global, para emissor e emissão, de ‘BB-’ para ‘D’.

Cenário de cautela para investidores

A XP Investimentos recomenda máxima cautela aos investidores. “Para quem não tem posição, o risco é alto e o mais prudente parece ser ficar de fora, enquanto as perspectivas são nebulosas”, afirmou a corretora. Para os acionistas, a decisão é delicada: “Já para acionistas, a decisão depende do perfil: vender agora significa realizar perdas, enquanto manter a posição implica pagar pra ver o resultado de todo o processo, se expor ao risco de queda adicional ou até perda total, caso a empresa avance para uma recuperação judicial”, completou.

Com informações do portal InfoMoney.

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