A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) introduzirá no primeiro semestre de 2025 uma disciplina inédita no âmbito acadêmico brasileiro dedicada exclusivamente ao estudo da Jurema Sagrada. A nova matéria será oferecida pelo curso de Ciências das Religiões e representa uma inovação no campo dos estudos religiosos no ensino superior.
Desenvolvida em parceria com o professor Stênio Soares, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da UFBA e pesquisador da Universidade de Bayreuth (Alemanha), a disciplina adotará uma abordagem multidimensional. O conteúdo programático abordará:
A proposta pedagógica tratará a Jurema como um sistema religioso-cultural completo, analisando sua organização comunitária, práticas rituais, liturgias e concepções cosmológicas. Esta iniciativa posiciona a UFPB na vanguarda dos estudos acadêmicos sobre tradições religiosas afro-brasileiras e indígenas.
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Ao longo do curso, estão previstos encontros com juremeiras e juremeiros da Paraíba, além de diálogos com artistas cuja produção emerge da relação espiritual e estética com a religião — como a música, as artes cênicas, a literatura, o cinema e as artes visuais. A proposta é analisar os contextos políticos e as estratégias de resistência, sobretudo diante do racismo religioso.
Entre as lideranças religiosas, Mãe Renilda chama atenção para a relevância histórica e cultural da Jurema no território paraibano. “A Jurema Sagrada é uma religião própria da Paraíba. Faz parte da nossa história, da nossa cultura, da nossa ancestralidade. Ter uma disciplina sobre ela na maior universidade do Estado é algo muito importante.” Já Pai Beto, guardião da Jurema Sagrada e presidente da Federação Cultural Paraibana de Umbanda, Candomblé e Jurema, celebra o ineditismo da iniciativa acadêmica. “A Jurema ainda é pouco estudada. Tanto que nunca teve uma disciplina voltada diretamente pro culto da Jurema Paraibana. Então, pra mim, é muito marcante ver esse interesse crescendo dentro da universidade — saindo de pesquisas isoladas para formar uma turma inteira voltada para essa temática.”
As atividades de ensino da disciplina estarão articuladas às atividades do projeto de pesquisa “Museu como Encruzilhada e na Encruzilhada”, financiado pela FAPESq e também coordenado pelo professor Stênio Soares. O conjunto dessas atividades de ensino e pesquisa está subsidiando a criação do Museu da Diáspora Negra, dos Povos Originários e das Comunidades Tradicionais, uma obra do Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Mulheres e Diversidade Humana (SEMDH), em parceria com o Ministério da Cultura”.
A secretária Lídia Moura, que está à frente da SEMDH, destacou o papel do novo museu como instrumento de valorização dos povos tradicionais do estado. “A Paraíba é um estado formado por população negra, quilombola, indígena, cigana, etc. E junto com a história de todas essas pessoas e etnias, existe também o sagrado e a diversidade religiosa. Então o museu, que será supervisionado pela secretaria, vem pra reforçar esse patrimônio e já começa criando pontes e trazendo aprendizados científicos.”
Para o professor Stênio Soares, a iniciativa representa um marco importante para a universidade e para a sociedade. “Quando o Departamento de Ciências das Religiões me sugeriu ministrar um componente optativo de tema livre, eu vi a oportunidade de abordar apenas a Jurema Sagrada e colocar essa religião no centro da relação entre ensino, pesquisa e extensão universitária. A partir dessa experiência, podemos olhar para a cultura paraibana compreendendo a importância das suas matrizes afro-indígenas na constituição da nossa identidade.”
A professora Dilaine Sampaio, coordenadora do curso de Ciências das Religiões, destaca o ineditismo da proposta. “A Jurema sempre esteve presente em nossa matriz curricular, dividindo espaço com outras religiões afro-indígenas. A novidade é que, como disciplina optativa isolada, ela terá agora o foco e a profundidade que merece. Trata-se de uma religião riquíssima e diversa, que contribui de forma significativa para o patrimônio cultural do nosso estado.”
As aulas acontecerão às quartas-feiras, das 19h às 20h30, na sala 317 do Centro de Educação (CE/UFPB), a partir do dia 11 de junho. Estudantes da UFPB poderão se matricular durante o período de matrícula extraordinária, que acontece nos dias 26 e 27 de maio. Pessoas externas à universidade também podem participar como ouvintes, enviando uma manifestação de interesse para o e-mail stenio.soares@ufba.br. Mais informações estão disponíveis no perfil do Instagram: @museudaencruzilhada.
Fonte: UFPB