A queda de um avião de pequeno porte na cidade de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, a cerca de 150 quilômetros de Campo Grande, na noite dessa terça-feira (23), resultou na morte de quatro pessoas, incluindo o renomado arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu, de 62 anos. Considerado um dos maiores nomes da arquitetura mundial, Yu era conhecido por sua abordagem ecológica e pelo conceito de “cidades-esponja”, que utiliza a natureza para tornar áreas urbanas mais resilientes a condições climáticas severas.
Além de Kongjian Yu, as vítimas incluem Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr., cineastas da Olé Produções que trabalhavam no documentário “Planeta Esponja” sob a direção de Ferraz, e o piloto Marcelo Pereira de Barros, proprietário da aeronave. Segundo a Olé Produções, o grupo estava no Pantanal para realizar gravações do projeto, que contava com a colaboração de Yu, professor da Universidade de Pequim.
Nascido em 1963 na província de Zhejiang, na China, Kongjian Yu era doutor em design pela Universidade de Harvard (1995) e reitor da Escola de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim. Fundador do premiado escritório Turenscape e do Instituto de Arquitetura Paisagística, ele foi pioneiro na teoria do “padrão de segurança ecológica” e do “antiplanejamento”. Seus projetos, descritos como a “combinação perfeita de ecologia e arte”, incluem mais de mil iniciativas em 250 localidades, baseadas no conceito de “cidades-esponja” para o controle de inundações urbanas e a gestão de águas pluviais. “A enchente passa a não ser uma inimiga”, resumiu Yu, ao explicar como suas ideias priorizam áreas alagáveis e vegetação nativa para mitigar danos causados por enchentes.
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Yu recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, como o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023), o RAIC International Prize (2025) e o Prêmio Internacional de Arquitetura Paisagística Oberlander. Ele também foi eleito membro da Academia Americana de Artes e Ciências (2016) e nomeado “NbS Global Navigator” pela União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN). Em 2025, a revista Forbes o incluiu entre os 50 Líderes Globais em Sustentabilidade, ao lado da ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) manifestou pesar pela morte de Yu, destacando sua relevância mundial. “Sua contribuição influenciou políticas públicas ambientais na China e em outros países”, afirmou o CAU. A entidade lembrou a participação de Yu em uma recente conferência em Brasília, onde, “diante de cerca de quatro mil pessoas, ele apresentou seu conceito de ‘cidades-esponja’, aplicado em mais de mil projetos em 250 localidades e defendeu soluções baseadas na natureza para enfrentar enchentes urbanas e os efeitos da crise climática”. O CAU destacou que a obra de Yu “deixa um legado de compromisso com a sustentabilidade, a paisagem e a vida urbana”.
Em junho de 2024, Yu visitou o Brasil a convite do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um seminário no Rio de Janeiro sobre a reconstrução de cidades afetadas por tragédias ambientais, como as enchentes no Rio Grande do Sul. “Estou orgulhoso de estar aqui para compartilhar a minha experiência de como o planeta pode ser sustentável”, declarou na ocasião, relatando que o conceito de cidades-esponja surgiu de sua experiência com inundações em Zhejiang, agravadas pela “infraestrutura cinza” de concreto que impermeabiliza as cidades.
Com informações da CNN e da Agência Brasil.