Um mapeamento realizado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revela que o Brasil tem 31 facções criminosas com potencial de afetar a segurança de estados. Entre os grupos criminosos, três têm atuação nacional: PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e TCP (Terceiro Comando Puro). O diretor de Inteligência Interna da Abin, Esaú Samuel Lima Feitosa, afirmou que o mapeamento dos 31 grupos deve ser concluído este ano. Ele não listou os nomes de todas as facções criminosas. “O que isso quer dizer? De forma ainda mais clara, há 31 grupos que são capazes, pelo menos, de afetar a segurança pública de um estado. Desses 31, três atuam em âmbito nacional”, afirmou.

PCC ainda é a facção que mais afeta a estabilidade do país, segundo a Abin. “É o grupo que de forma mais sofisticada se ‘transnacionalizou’. Identificamos desde 2016 esse processo de avanço internacional. Em 2018 a gente teve acesso a um salve, um comunicado deles, em que convocavam membros que falassem espanhol para poder se proliferarem por outros países”, afirmou o coordenador-geral de análise de conjuntura da Abin, Pedro de Souza Mesquita.
A facção paulista expandiu operações para fora do Brasil e está presente em 28 países. O relatório da Abin detalha que, em 2018, o PCC estava presente em onze países, com cerca de 1000 membros. Além da expansão internacional, o número de integrantes saltou para 2078. Países com a maior quantidade de membros são o Paraguai, Venezuela, Bolívia e o Uruguai. Presença de integrantes da facção em outros países não necessariamente se dá porque o grupo quer ampliar o tráfico de drogas nesses locais. Pode estar relacionada, em vez disso, ao envolvimento com outros tipos de crime, como lavagem de dinheiro.
Expansão do Comando Vermelho começou em 2013. Naquele ano, a facção estava presente em apenas quatro estados, além do Rio de Janeiro, onde surgiu. O relatório da Abin mostra que o CV operava no Pará, Tocantins, Rondônia e Santa Catarina. Atualmente, grupo expandiu suas operações e só não tem atuação em cinco estados: Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Lacunas deixadas pelo PCC e transferências de lideranças impulsionam crescimento da facção. Mesquita afirmou que com o avanço da facção paulista para outros países, o CV percebeu que existiam territórios que podiam ser ocupados em outros estados. Além disso, o coordenador explicou que quando presos são levados para outros estados, eles buscam outras regiões para atuar, se organizar e voltar para o Rio de Janeiro.
CV se aliou a grupos locais e criou rede de fornecimento de drogas e armas. Ao longo dos anos, o Comando Vermelho começou a se aliar a facções de outros estados que estavam enfrentando o avanço do PCC. “Então, ele [o CV] começa a oferecer a esses grupos uma rede de acesso logístico a armas, e drogas, uma cadeia de comando muito mais descentralizada do que a facção paulista”, avalia o coordenador da Abin. Ele cita ainda que o grupo também oferece como vantagem a possibilidade de esconderijo em comunidades do Rio de Janeiro. Comando Vermelho está envolvido em todos os confrontos entre facções criminosas no país. Mesquita cita ainda que a expansão do CV se consolidou em 2024, tornando-se um dos principais desafios à segurança nacional. A avaliação foi feita durante reunião no dia 5 de novembro, na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Senado Federal. A gente tem confronto de grupos organizados no Brasil e todos eles envolvem o Comando Vermelho. Não há confronto de organizações criminosas hoje que não envolva o CV Coordenador-geral de análise de conjuntura da Abin, Pedro de Souza Mesquita.
Ocupação territorial do CV é método aplicado também fora do Rio de Janeiro. O capitão Daniel Ferreira, subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, detalhou que a facção carioca é especialista em “territorialismo”. “Eles dominam o território e, ao longo dos tempos, aprenderam que a exploração da população e de serviços se tornaram um meio de grande lucro, ao ponto do tráfico de drogas não ser o que mais dá lucro ao grupo”. Essa rivalidade [entre TCP e CV] vai trazer mais violência, mais morte, é uma rivalidade histórica de facções. Eles estão infiltrados na estrutura do Estado e, por causa das lavagens de dinheiro, o combate tem se tornado cada vez mais difícil. Daniel Ferreira, subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
TCP, rival do CV no Rio, também copiou modelo e hoje já está presente em dez estados. No relatório, que deve ser publicado no início de 2026, o Terceiro Comando Puro aparece como uma das facções nacionais, que também ocupa espaços deixados pelo PCC. Grupo criminosa atua hoje no: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Terceiro Comando também oferece armas e drogas como atrativo a facções regionais. A expansão ao nível nacional tem ocorrido porque o PCC não é uma facção ‘territorialista’, e o TCP, sim. “O TCP vem replicando muito o método do próprio CV e ocupando os lugares em que o PCC era predominante e hoje já não é mais, porque o PCC hoje olha para fora”, afirmou o coordenador da Abin. Abin alerta que o avanço dessas duas facções acende um sinal nacional de preocupação. Agência justifica que essa disputa espalha a “lógica de confrontos violentos típica do Rio de Janeiro” para outras regiões do país.
Com informações do portal Uol.