O Dia Mundial da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20), ganhou um significado ainda mais especial para a comunidade quilombola de Paratibe, em João Pessoa. A data, marcada pela valorização da história, da cultura negra e pela luta por igualdade racial, foi reforçada por uma conquista concreta: a entrega dos títulos dos imóveis do Residencial Hélio Miguel da Silva, realizada pelo prefeito Cícero Lucena (MDB).

O residencial, que abriga 80 famílias, é o primeiro empreendimento quilombola do Brasil e já recebeu premiação nacional pela sua inovação social e impacto positivo na vida da comunidade. Antes vivendo em condições precárias, em um assentamento, as famílias agora dispõem de uma moradia digna, planejada e com infraestrutura completa, garantindo acesso a serviços essenciais e qualidade de vida.
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Durante a cerimônia, marcada por uma vasta programação cultural e ações de cidadania na Associação Beneficente das Comunidades Remanescentes de Quilombo dos Palmares (ABCRQ-JP), o prefeito destacou a relevância da data e reafirmou o compromisso da gestão municipal com políticas públicas que promovam reparação histórica e inclusão. “Cremos firmemente que estamos contribuindo para conscientizar o Brasil sobre a importância de valorizar as pessoas. É fundamental compreender que o maior valor reside nas pessoas. É essa convicção que guia minhas ações na vida pública, pois entendo que minha missão, nos cargos que me são confiados, muitas vezes por meio do apoio de vocês, é servir, fazer o bem e melhorar a vida das pessoas”, afirmou o prefeito.
O Residencial Hélio Miguel da Silva simboliza um novo capítulo para a comunidade quilombola de Paratibe, que agora vive com segurança, estrutura adequada e reconhecimento social. “A escolha da data coincide com o Dia da Consciência Negra, tornando o evento ainda mais significativo por conta dos imóveis. Adicionalmente, foi desenvolvido um trabalho social com os quilombolas, englobando atividades como gastronomia, cerâmica e pintura. A rica cultura local já reconhecida com prêmio em Brasília”, destacou a secretária Municipal de Habitação Social, Socorro Gadelha, que foi homenageada na solenidade juntamente com o prefeito Cícero Lucena e o vereador Marcus Vinícius, com o reconhecimento na promoção da igualdade racial.
Ângela Lucia da Silva falou em nome da comunidade. Ao receber o título de propriedade, a dona de casa se emocionou e disse que a casa própria é o maior reconhecimento de respeito e dignidade que a família dela já teve na vida. “Só Deus sabe o que isso representa. É um sonho que se realiza, uma conquista. A gente acreditou que a Prefeitura iria construir as nossas casas e hoje podemos dizer que é nosso”, afirmou, após receber a escritura das mãos do prefeito Cícero Lucena.
Neste Dia da Consciência Negra, a comunidade também celebra o trabalho social pós-ocupacional desenvolvido pela Secretaria de Habitação. A iniciativa foca no desenvolvimento das características e dos talentos dentro da comunidade nas áreas de música, pintura, dança, cerâmica, gastronomia e várias outras atividades de valorização da cultura negra dos quilombolas, desenvolvidas na Associação Beneficente das Comunidades Remanescentes de Quilombo dos Palmares (ABCRQ-JP).
Simone Teixeira, coordenadora de Projetos e Eventos da ABCRQ-JP, falou sobre o projeto. “A gente trabalha muito com o resgate, ofertando para eles a oportunidades como oficinas e capacitações em música, pintura, dança tirando eles do risco da criminalidade, oferecendo diversas atividades com professores qualificados. A gente oferece tudo isso para eles, que vão aprendendo e crescendo juntos”, destacou.
Josivaldo Cavalcante, conhecido na comunidade como Maestro Val, está no projeto há cerca de um ano, fazendo aulas semanais. Segundo ele, a formação da banda resultou de uma série de oficinas de instrumentos de metais e percussão, como trompetes, trombones, tuba, bombardino e percussão – tambor, zabumba, atabaques, triângulos baterias.
“Nós temos aproximadamente 50 componentes na banda, formada por crianças e adolescentes. Costumo dizer que a música salva vidas e quem sabe esses meninos despertem como musicistas e sigam na música como uma profissão. Eu mesmo comecei assim também com projeto de educação e inclusão. Aqui na comunidade quem quiser aprender pode vir”, fez o convite.
O estudante João Henrique, de 12 anos, começou a tocar há cerca de três anos e escolheu os instrumentos por gostar dos sons. “Eu toco trombone e flauta. Gosto muito e fui atraído pelos sons. Fui um dos primeiros a começar nas aulas de oficina”, revelou. Hoje ele ganhou uma flauta do maestro pelo aniversário de 12 anos.
César Gabriel é outro aluno e toca tuba e flauta. “Eu já sabia tocar, mas participar da banda me fez evoluiu bastante. A música preenche minha vida com muitas coisas boas. Penso em ter um futuro com a música”, contou o menino tímido, comportamento que a música vem ajudando também a mudar.
O artista plástico Jorge Charles faz um trabalho voluntário de oficina de artes na comunidade quilombola, com adolescentes a partir de 12 anos. “Trabalhamos com composição e tipos de materiais e a maneira de usá-los. Trabalhamos com o que temos e pintamos com espátula, bucha ou usamos os dedos”, explicou.
E como improvisar faz parte da oficina de arte, o estudante Miguel Soares, de 15 anos, que tem deficiência física, pinta segurando o pincel com os pés. “Eu já gostava de desenhar, mas pintar com o pincel foi maravilhoso”, disse.
O Dia da Consciência Negra na comunidade em Paratibe contou com exposição de trabalhos das oficinas de pintura e de cerâmica, pintura facial e corporal, dança, capoeira, apresentação da orquestra formada por crianças e jovens da comunidade, feira de artesanato, maquetes, além de pintura de unhas, massagens com ventosas, corte de cabelo, limpeza de pele, pula-pula, projeto Brasil Sorridente e aplicação de vacinas.
Fonte: PMJP