Um ataque aéreo israelense em Gaza atingiu a casa de uma médica e matou nove de seus dez filhos, segundo o hospital onde ela trabalha em Khan Younis. O Nasser Hospital informou que um dos filhos da Dra. Alaa al-Najjar e seu marido ficaram feridos, mas sobreviveram. Graeme Groom, um cirurgião britânico que atua no hospital, disse que operou o filho sobrevivente dela, de 11 anos.
Um vídeo compartilhado pelo diretor do Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, e verificado pela BBC, mostra corpos carbonizados de crianças sendo retirados dos escombros de um ataque em Khan Younis nessa sexta-feira (23).
Em um comunicado geral neste sábado (24), as Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram ter atingido mais de 100 alvos em Gaza no último dia. O Ministério da Saúde de Gaza disse que pelo menos 74 pessoas foram mortas pelas forças israelenses nas 24 horas anteriores ao meio-dia de sábado.
O Dr. Muneer Alboursh, diretor do Ministério da Saúde, postou no X (antigo Twitter) que a casa da família al-Najjar foi atingida minutos após o marido da médica, Hamdi, retornar para casa depois de levar a esposa ao trabalho. O Dr. Alboursh afirmou que o filho mais velho da Dra. Alaa tinha12 anos.
Em um vídeo publicado no Instagram da cirurgiã britânica Victoria Rose, também atuante no Nasser Hospital, Graeme Groom disse que o pai das crianças estava “gravemente ferido”. Ele relatou que perguntou sobre o pai, também médico do hospital, e foi informado de que ele “não tinha conexões políticas ou militares e não parecia ser uma figura proeminente nas redes sociais”. Groom descreveu a situação como “inimaginável” para a Dra. Alaa.
Mahmoud Basal, porta-voz da Defesa Civil de Gaza (controlada pelo Hamas), disse no Telegram na sexta-feira à tarde que suas equipes resgataram oito corpos e vários feridos da casa dos al-Najjar, localizada perto de um posto de gasolina em Khan Younis. Inicialmente, o hospital postou no Facebook que oito crianças haviam morrido, mas duas horas depois atualizou o número para nove.
Outro médico, Youssef Abu al-Rish, relatou em um comunicado do Ministério da Saúde que, ao chegar à sala de cirurgia, encontrou a Dra. Alaa esperando notícias sobre seu filho sobrevivente e tentou consolá-la.
Em entrevista à AFP, um parente da família, Youssef al-Najjar, desabafou: “Chega! Tenham piedade de nós! Imploramos a todos os países, à comunidade internacional, ao povo, ao Hamas e a todas as facções: tenham misericórdia. Estamos exaustos com o deslocamento e a fome. Basta!”
Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que os gazenses enfrentam o que pode ser “a fase mais cruel” da guerra e condenou o bloqueio israelense a ajuda humanitária, imposto em março. Israel flexibilizou parcialmente o bloqueio nesta semana. O COGAT (órgão militar israelense) informou que mais 83 caminhões com farinha, alimentos, equipamentos médicos e medicamentos entraram em Gaza na sexta-feira.
A ONU reiterou que o volume de ajuda está longe do necessário para os 2,1 milhões de habitantes do território – seriam necessários 500 a 600 caminhões diários – e pediu que Israel permita a entrada de mais suprimentos.
A escassez de alimentos nesta semana gerou cenas caóticas, com saqueadores armados atacando um comboio de ajuda e palestinos se aglomerando em padarias na esperança de conseguir pão. Um relatório da ONU este mês classificou a população de Gaza em “risco crítico” de fome.
Moradores relataram à BBC a falta total de comida, com mães desnutridas incapazes de amamentar. A crise hídrica também se agrava, pois usinas de dessalinização e higiene estão sem combustível, enquanto a ofensiva militar israelense desloca mais pessoas.
Israel afirma que o bloqueio visa pressionar o Hamas a libertar reféns ainda mantidos em Gaza e acusa o grupo de desviar suprimentos – alegação negada pelo Hamas.
A campanha militar israelense em Gaza foi lançada em resposta ao ataque transfronteiriço do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou em 251 reféns. Desde então, pelo menos 53.901 pessoas, incluindo 16.500 crianças, morreram no território, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Traduzido da BBC.