A relação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk, outrora marcada por uma aliança estratégica, entrou em colapso nos últimos dias, desencadeando um embate público que reverbera no mercado financeiro, na política americana e até na base republicana. O conflito, que culminou na saída de Musk do governo Trump, onde atuava como “funcionário especial” no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), foi deflagrado por divergências sobre o projeto de lei orçamentária defendido pelo presidente, mas as tensões já vinham se acumulando há meses.
O estopim da crise ocorreu quando Musk classificou o projeto fiscal de Trump como uma “abominação repugnante” em postagens na rede social X, de sua propriedade. O bilionário criticou o aumento do déficit orçamentário e os gastos excessivos previstos na legislação, que inclui isenções fiscais e investimentos em defesa. A proposta, aprovada pela Câmara dos Representantes com apoio majoritário dos republicanos, foi defendida por Trump como “grande e lindo”, mas enfrentou resistência de alguns senadores do partido, amplificada pelas declarações de Musk. “Esse projeto de lei atola os americanos em dívidas”, escreveu Musk, ameaçando apoiar candidatos alternativos nas eleições legislativas de 2026 contra republicanos que endossarem a legislação.
Veja também
Lula pede que Macron “abra seu coração” para o Mercosul
Em resposta, Trump sugeriu a possibilidade de romper contratos governamentais com empresas de Musk, como SpaceX e Tesla, afirmando que a medida “economizaria bilhões de dólares”. O presidente também chamou Musk de “louco” e revelou que pediu sua saída do governo, intensificando o tom do confronto. “Estou muito decepcionado com Elon”, declarou Trump em uma coletiva no Salão Oval ao lado do chanceler alemão Friedrich Merz. As ações da Tesla despencaram 14% após as declarações, resultando em uma perda de US$ 150 bilhões em valor de mercado, enquanto a Trump Media, controladora da rede Truth Social, caiu 8%.
O embate não é apenas financeiro. Nos bastidores, aliados de Trump expressam preocupação com a possibilidade de Musk financiar candidatos que desafiem a base republicana em 2026, o que poderia fragmentar ainda mais o partido. Fontes próximas à Casa Branca, citadas pelo New York Times, indicam que o governo se prepara para um “conflito prolongado” com o bilionário, cujo papel na vitória de Trump em 2024 foi crucial. Musk investiu cerca de US$ 275 milhões na campanha do republicano, mobilizando eleitores por meio do comitê America PAC e da plataforma X, além de ter participado ativamente de comícios.
Outro ponto de atrito foi a retirada da indicação de Jared Isaacman, aliado de Musk, para liderar a NASA. A Casa Branca justificou a decisão alegando a necessidade de um líder “alinhado com a agenda ‘América em Primeiro Lugar’ de Trump”, mas a medida foi vista como um golpe direto contra Musk, que lamentou a desistência nas redes sociais. Além disso, cortes em subsídios para veículos elétricos, que beneficiam a Tesla, também azedaram a relação, embora a xAI, empresa de inteligência artificial de Musk, possa se beneficiar de outras políticas.
A saída de Musk do DOGE, onde ele pressionava por cortes trilionários na máquina pública, marca o fim de uma “lua de mel” que já dava sinais de desgaste. Em março, uma discussão acalorada em uma reunião de gabinete, na qual Musk criticou o secretário de Estado Marco Rubio e o secretário de Transportes Sean Duffy, expôs tensões internas. O bilionário também enfrentava críticas por conflitos de interesse, já que suas empresas, como SpaceX e Tesla, mantêm contratos significativos com o governo federal.
Analistas políticos apontam que o embate pode ter consequências duradouras. “Musk, com sua influência e recursos, pode desestabilizar a base republicana se decidir financiar adversários internos”, afirmou um estrategista ouvido pela BBC. Por outro lado, a Casa Branca tenta minimizar a crise, afirmando que Musk “continuará ajudando” o governo, enquanto Trump insiste que os cortes de gastos prosseguirão.
O confronto entre os dois gigantes expõe fissuras no Partido Republicano e levanta questões sobre o futuro da agenda econômica de Trump. Enquanto o presidente busca consolidar sua liderança, Musk, agora “sem amarras”, promete manter sua influência, alertando que “estará por aqui por mais de 40 anos”. Resta saber como esse embate moldará o cenário político americano nos próximos meses.
Com informações dos portais: Uol, BBC News Brasil e Folha de S.Paulo