Em uma publicação surpreendente nesta terça-feira, a diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard, alertou sobre os perigos das armas nucleares. “Recentemente visitei Hiroshima e estive no epicentro de uma cidade marcada pelo horror inimaginável causado por uma única bomba nuclear em 1945”, escreveu ela no X. “O que vi, as histórias que ouvi e a tristeza profunda que persiste ficarão comigo para sempre.”
Não se sabe quando ou por que Gabbard esteve em Hiroshima, a primeira cidade do mundo a sofrer um ataque atômico, mas sua postagem claramente não foi um comentário improvisado.
O post incluía um vídeo profissional (assista no final da matéria) de três minutos e meio, com depoimentos de Gabbard, imagens de arquivo do bombardeio, cenas do sofrimento causado e infográficos animados.
Veja também
Bolsonaro rejeita acusações de golpe de Estado, se desculpa com STF e questiona urnas eletrônicas
“Esta bomba que causou tanta destruição em Hiroshima era minúscula comparada às armas nucleares atuais”, alertou.
Ela explicou que a bomba de Hiroshima explodiu com força equivalente a 15 quilotons de TNT, enquanto os ogivas nucleares modernas variam de 100 quilotons a um megaton.
Gabbard mencionou o potencial de milhões de mortes por explosões e queimaduras, os efeitos do “fallout” (envenenamento radioativo do ar, solo e água) e o risco de um “inverno nuclear”.
A humanidade está “mais perto da aniquilação nuclear do que nunca”, afirmou. “Elites políticas e belicistas estão alimentando irresponsavelmente o medo e as tensões entre potências nucleares.”
Ela não especificou a que se referia, mas já afirmou anteriormente que o apoio dos EUA à Ucrânia ameaça a segurança global ao antagonizar a Rússia. O presidente russo Vladimir Putin e outras figuras do país já insinuaram possíveis escaladas nucleares.
O post de Gabbard pode ter sido um desabafo sincero. Poucos visitantes saem de Hiroshima indiferentes após ver as ruínas no hipocentro da explosão e o Museu Memorial da Paz.
Com a aproximação do 80º aniversário dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki (agosto de 1945), suas preocupações não são isoladas.
Em janeiro, o Boletim dos Cientistas Atômicos ajustou o “Relógio do Juízo Final” para 89 segundos para a meia-noite – “o mais próximo da catástrofe” em seus 78 anos de história.
Um capitão das Forças dos EUA na Coreia recentemente explicou ao The Washington Times por que carregava um exemplar do best-seller “Guerra Nuclear: Um Cenário” (Annie Jacobsen, 2024), obra que detalha um possível ataque norte-coreano a Washington.
“Todos os generais estão lendo”, disse.
Em 2024, o filme “Oppenheimer”, sobre o pai da bomba atômica, dominou o Oscar. No mesmo ano, o grupo japonês de sobreviventes atômicos Nihon Hidankyo ganhou o Nobel da Paz por seus “esforços por um mundo livre de armas nucleares”.
As declarações de Gabbard causaram surpresa no Japão e críticas de republicanos nos EUA.
“É raro um membro ativo do gabinete americano se opor publicamente a armas nucleares”, opinou a emissora NHK. “Muito incomum”, escreveu a agência Kyodo.
“Ela obviamente precisa trocar de remédios”, disse o senador republicano John Kennedy ao site Jewish Insider.
“Muitos acreditam que, embora trágico, o bombardeio de Hiroshima salvou muitas vidas americanas na Segunda Guerra”, argumentou a senadora Susan Collins.
No X, comentários variaram: alguns interpretaram o alerta como direcionado ao Irã, outros como um apelo pela paz na Ucrânia, e houve quem acusasse Gabbard de propagar “narrativas marxistas/comunistas”.
Gabbard não é a primeira autoridade de segurança dos EUA a criticar armas nucleares. Enquanto muitos soldados aliados comemoraram o fim da Segunda Guerra, o então general Dwight Eisenhower era contra o bombardeio:
“Os japoneses já estavam prontos para se render; não era necessário usar aquela coisa horrível”, disse. “Detestei ver nosso país ser o primeiro a usar tal arma.”
O almirante William D. Leahy, assessor do presidente Truman, escreveu em 1950: “O uso dessa arma bárbara em Hiroshima e Nagasaki não ajudou materialmente nossa guerra. O Japão já estava derrotado pelo bloqueio naval e bombardeios convencionais.”
Com informações do portal Washington Times.