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Pizza Index: como pedidos de pizza podem sinalizar crises globais
Termômetro da Política
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Nos últimos dias, a expressão “Pizza Index” voltou a ganhar destaque nas redes sociais e na imprensa internacional, reacendendo uma teoria que mistura humor, inteligência de fontes abertas e geopolítica. Também conhecido como “Pentagon Pizza Meter”, o índice sugere que picos repentinos em pedidos de delivery de comida – especialmente pizzas – para prédios governamentais dos Estados Unidos, como o Pentágono, a Casa Branca ou a CIA, podem indicar que algo importante está prestes a acontecer no cenário global. Mas o que exatamente é esse índice, como ele surgiu e por que está sendo comentado novamente?

Pizza Index correlaciona aumentos significativos em pedidos de entrega de comida, particularmente pizzas, em áreas próximas a instalações governamentais americanas (Foto: Felipe Gesteira)

O que é o Pizza Index?

O Pizza Index é uma teoria que correlaciona aumentos significativos em pedidos de entrega de comida, particularmente pizzas, em áreas próximas a instalações governamentais americanas, com momentos de alta tensão geopolítica ou militar. A lógica é simples: quando funcionários do Pentágono, da CIA ou do Departamento de Defesa trabalham até tarde, lidando com crises ou operações iminentes, eles não podem deixar seus postos e recorrem a pedidos de comida rápida. Esses picos de atividade em pizzarias locais, monitorados por ferramentas públicas como o Google Maps, podem servir como um indicador informal de que algo grande está em andamento, antes mesmo de a notícia chegar ao público.

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Embora não seja um método científico, o Pizza Index é considerado uma forma de inteligência de fontes abertas, acessível a qualquer pessoa com acesso a dados públicos. Além dos pedidos de pizza, a teoria também observa quedas no movimento de bares e restaurantes próximos a esses prédios, sugerindo que os funcionários estão retidos no trabalho em vez de socializar.

Origem da teoria

A origem do Pizza Index remonta à Guerra Fria, quando a inteligência soviética monitorava padrões de comportamento em Washington, D.C., para prever ações militares americanas. Os soviéticos cunharam o termo “Pizzint” (de “pizza intelligence”) para descrever o acompanhamento de entregas de comida a prédios governamentais como um sinal de alerta precoce.

A teoria ganhou notoriedade pública no final dos anos 1980 e início dos 1990, graças a Frank Meeks, um franqueado da Domino’s Pizza na Virgínia, próximo ao Pentágono. Meeks observou que os pedidos de pizza disparavam em momentos de crise nacional. Exemplos históricos incluem:

  • Outubro de 1983: Dobro de pedidos ao Pentágono na véspera da invasão americana de Granada.
  • Dezembro de 1989: Aumento similar antes da invasão do Panamá.
  • 1º de agosto de 1990: A CIA encomendou 21 pizzas em uma única noite, um recorde, na véspera da invasão do Kuwait pelo Iraque, que desencadeou a Guerra do Golfo.
  • Dezembro de 1998: Pedidos ao Pentágono e à Casa Branca aumentaram durante as audiências de impeachment do presidente Bill Clinton e a Operação Desert Fox, no Kosovo.

Esses episódios foram reportados por veículos como Los Angeles Times, Washington Post e Chicago Tribune, e o jornalista Wolf Blitzer, então correspondente da CNN no Pentágono, chegou a brincar em 1990: “A lição para jornalistas é: sempre monitore as pizzas.”

Na era das redes sociais, a teoria se transformou em um fenômeno de buscas coletivas, com usuários rastreando a atividade de pizzarias via Google Maps e compartilhando capturas de tela no X. Contas como @PenPizzaReport dedicam-se a monitorar o tráfego em pizzarias próximas ao Pentágono, alimentando especulações sobre crises iminentes.

Por que voltou a ser comentado?

O Pizza Index voltou ao centro das atenções em junho de 2025, em meio às tensões entre Israel e Irã. No dia 12 de junho, a conta @PenPizzaReport relatou um pico de pedidos em quatro pizzarias próximas ao Pentágono – We, The Pizza, District Pizza Palace, Domino’s e Extreme Pizza – por volta das 19h (horário de Washington). Cerca de uma hora depois, a mídia iraniana reportou explosões em Teerã, marcando o início de ataques aéreos israelenses contra o Irã.

Esse evento reacendeu o interesse pela teoria, com usuários do X compartilhando memes e análises de dados em tempo real. A coincidência foi amplamente debatida, com comentários como: “A pesquisa no Google Maps supera algumas agências de inteligência” e sugestões bem-humoradas de que o Pentágono deveria ter sua própria pizzaria interna para evitar vazamentos.

Outro episódio recente que reforçou a teoria ocorreu em 13 de abril de 2024, quando pizzarias próximas ao Pentágono, à Casa Branca e ao Departamento de Defesa registraram picos de pedidos durante o ataque de drones iranianos contra Israel, em retaliação ao bombardeio de uma embaixada iraniana na Síria. Capturas de tela de aplicativos de entrega, como Papa John’s, viralizaram no X, consolidando a percepção de que o Pizza Index é, no mínimo, uma coincidência intrigante.

Críticas e limitações

Apesar da popularidade, o Pizza Index não é infalível. O Departamento de Defesa dos EUA minimizou a teoria, afirmando que o Pentágono possui opções internas de alimentação, como pizzarias, sushi e sanduíches, e que os picos de pedidos podem refletir eventos rotineiros, como reuniões ou exercícios. Além disso, a correlação entre pedidos de pizza e crises não é comprovada cientificamente, e falsos positivos podem surgir de atividades normais.

Analistas de fontes de dados abertos, no entanto, defendem que o índice é mais eficaz quando combinado com outros indicadores, como padrões de voo, tráfego de rideshare ou consumo de energia. A psicologia comportamental também explica o fenômeno: em situações de estresse, como crises internacionais, as pessoas tendem a buscar alimentos calóricos e familiares, como pizza, durante longos turnos de trabalho.

Fenômeno cultural e geopolítico

Seja uma ferramenta de inteligência ou apenas uma curiosidade, o Pizza Index demonstra como dados cotidianos podem revelar insights inesperados. Com a automação de monitoramento via inteligência artificial, o índice pode evoluir para sistemas de alerta precoce mais sofisticados, embora isso também levante preocupações sobre manipulação de dados por adversários para gerar desinformação.

Por enquanto, o Pizza Index permanece uma mistura de folclore moderno e análise geopolítica, capturando a imaginação de jornalistas, internautas e até ex-correspondentes como Wolf Blitzer. Enquanto pizzarias próximas ao Pentágono continuarem a receber pedidos fora de hora, o mundo seguirá observando – com uma fatia de pizza na mão e um olho nas notícias.

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