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EUA ameaçam suspender GPS no Brasil? Boato gera alarme, mas especialistas desmentem viabilidade técnica
Termômetro da Política
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Nos últimos dias, mensagens alarmistas circularam nas redes sociais, sugerindo que os Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, poderiam suspender o acesso do Brasil ao sistema GPS (Global Positioning System) como retaliação em um suposto conflito diplomático. A alegação, que ganhou tração em plataformas como o X, aponta para impactos catastróficos em setores como aviação, agronegócio e sistema bancário. No entanto, fontes confiáveis, como o site Boatos.org, desmentem a existência de qualquer declaração oficial de Trump ou do governo americano sobre o tema, classificando a informação como falsa e tecnicamente implausível.

Brasil utiliza sistema de geolocalização por satélites desenvolvido e gerenciado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Foto: Divulgação/Nasa)

Por que o Brasil depende do GPS dos EUA?

O Brasil, como grande parte do mundo, depende do GPS, um sistema de geolocalização por satélites desenvolvido e gerenciado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos desde a década de 1960. O GPS é uma infraestrutura essencial para o funcionamento de setores críticos, como transporte, aviação, logística, agricultura de precisão e até sincronização de redes bancárias e de telecomunicações. O sistema opera com uma constelação de 32 satélites que fornecem sinais de Posicionamento, Navegação e Tempo (PNT), permitindo localização precisa em tempo real. No Brasil, essa dependência é acentuada pela ausência de um sistema nacional de geolocalização, o que deixa o país vulnerável a eventuais interrupções de sistemas estrangeiros.

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Essa dependência foi destacada pelo coronel da reserva da Força Aérea Júlio Shidara, presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais Brasileiras (AIAB), durante o 1º Seminário de Segurança, Desenvolvimento e Defesa no Ambiente Espacial, em Brasília, em julho de 2025. Ele alertou que o Brasil não possui alternativas nacionais robustas, o que compromete a soberania em setores vitais como energia, telecomunicações e defesa.

O boato da suspensão do GPS

A narrativa de que os EUA poderiam “desligar” o GPS para o Brasil surgiu em meio a tensões comerciais, como a ameaça de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Trump em julho de 2025. No entanto, especialistas afirmam que cortar o sinal GPS seletivamente para um país como o Brasil é tecnicamente inviável. O GPS é um serviço público global, com acesso civil gratuito e aberto a qualquer nação, mesmo em contextos de atritos diplomáticos. Bloquear o sinal de forma seletiva exigiria mudanças técnicas complexas, que afetariam até empresas americanas operando no Brasil, além de causar sérias repercussões diplomáticas.

Postagens no X, como as de @VoxLiberdade e @AraciBrolo, amplificaram o boato, sugerindo que a interrupção do GPS poderia desestabilizar desde aplicativos como Waze até a aviação e o agronegócio. Contudo, essas afirmações carecem de evidências concretas e foram desmentidas por especialistas em geopolítica e telecomunicações, que destacam a improbabilidade de tal medida.

Alternativas ao GPS disponíveis para o Brasil

Embora o Brasil dependa fortemente do GPS, existem sistemas alternativos de navegação por satélite (GNSS) que poderiam mitigar os impactos de uma eventual interrupção. Esses sistemas, desenvolvidos por outras potências, já estão disponíveis no Brasil, ainda que em menor escala:

  1. Galileo (União Europeia): Desenvolvido pela UE e pela Agência Espacial Europeia, o Galileo opera com 26 satélites e oferece maior precisão que o GPS. Criado para reduzir a dependência de sistemas americanos e russos, ele é compatível com a maioria dos dispositivos modernos, como smartphones e equipamentos de navegação. Durante os anos 2000, os EUA expressaram preocupações com o Galileo, temendo seu uso por nações adversárias, mas um acordo garantiu a interoperabilidade dos sistemas.
  2. GLONASS (Rússia): O sistema russo, com 24 satélites, é uma alternativa estratégica ao GPS. O Brasil é o maior hospedeiro de bases de controle do GLONASS fora da Rússia, com estações em universidades federais como as de Pernambuco, Santa Maria, Belém e Brasília. Essas bases foram instaladas para calibrar os satélites russos, em troca de acesso à tecnologia de geoposicionamento.
  3. BeiDou (China): Com 35 satélites, o BeiDou é o maior sistema GNSS em operação e oferece cobertura global desde 2020. Smartphones de marcas como Huawei, Xiaomi e até iPhones já são compatíveis com o BeiDou, que também suporta serviços como mensagens de texto sem conexão celular.

A maioria dos dispositivos modernos no Brasil suporta múltiplos sistemas GNSS, permitindo a transição para Galileo, GLONASS ou BeiDou em caso de interrupção do GPS. No entanto, a adaptação total de setores críticos, como aviação e agricultura, poderia levar de um a dois anos, dependendo da infraestrutura.

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