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Procuradora-geral alertou Trump em maio que seu nome constava nos ‘arquivos de Epstein’
Termômetro da Política
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As frentes do caso Epstein se multiplicam para Donald Trump. O Wall Street Journal revelou nessa quarta-feira (23) que o Departamento de Justiça informou o ex-presidente dos EUA em maio que seu nome aparecia “em múltiplas ocasiões” nos arquivos de Epstein, o milionário pedófilo que morreu em 2019 sob custódia policial aguardando julgamento por tráfico sexual de menores. Ter o nome mencionado nesses documentos – cujo contexto não foi divulgado – não significa que Trump seja culpado de qualquer crime, mas pode indicar os motivos por trás da decisão de sua administração, anunciada há duas semanas, de não tornar públicos esses registros, apesar das promessas reiteradas dele e de seus aliados.

Trump e Epstein foram próximos durante os anos 1990 e início dos 2000
Trump e Epstein foram próximos durante os anos 1990 e início dos 2000 (Foto: Reprodução)

Horas depois, um comitê do Congresso convocou Ghislaine Maxwell, cúmplice do milionário pedófilo – condenada a 20 anos de prisão na Flórida por participar de sua rede de exploração sexual de menores e por perjúrio –, para depor em 11 de agosto. A medida teve apoio de três republicanos (Nancy Mace, da Carolina do Sul; Brian Jack, da Geórgia; e Scott Perry, da Pensilvânia), além de todos os democratas do Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara. O órgão também solicitou ao Departamento de Justiça a entrega dos documentos relacionados ao polêmico caso.

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O Journal cita fontes anônimas do governo. Sabe-se que Trump e Epstein mantiveram uma amizade de 15 anos, rompida em 2004, segundo o ex-presidente – um ano antes da primeira investigação contra o financista, que resultou em uma pena branda na Flórida. Muito antes de Epstein ser processado e morrer em Nova York, deixando as vítimas sem ver seu julgamento. À época, Trump já estava em seu primeiro mandato.

A procuradora-geral Pam Bondi teria dito a Trump, em maio, que os milhares de documentos continham “muitos rumores sobre muitas pessoas, incluindo Trump”. Ela também comunicou sua decisão de não divulgá-los, pois continham “pornografia infantil” e dados pessoais das vítimas. A decisão foi formalizada em 7 de julho, quando o Departamento de Justiça e o FBI liberaram um documento frustrando apoiadores do movimento MAGA (Make America Great Again), que exigiam a divulgação total.

Teorias da conspiração sugerem que os arquivos listariam ricos e poderosos envolvidos em orgias com menores organizadas por Epstein. Alguns duvidam até de sua morte por suicídio, alegando que ele teria sido assassinado para não expor outros.

“É outra notícia falsa, como a anterior do Wall Street Journal“, rebateu Steven Cheung, diretor de comunicação da Casa Branca, referindo-se a uma reportagem do jornal sobre uma suposta carta de Trump a Epstein em 2003 – que o ex-presidente nega ser verdadeira. Trump, que tenta desviar o foco do escândalo com acusações contra Barack Obama, processou o Journal por difamação na sexta-feira, exigindo mais de US$ 10 bilhões em indenização.

No início de junho, Elon Musk tuitou (e depois deletou): “@realDonaldTrump está na lista Epstein. Essa é a verdadeira razão para não divulgá-la“.

O primeiro julgamento

Nesta quarta, a juíza federal da Flórida Robin L. Rosenberg negou o pedido de Bondi para tornar públicos os registros do grande júri do primeiro julgamento de Epstein, encerrado em 2008 com um acordo polêmico que poupou o milionário de uma pena maior. Bondi, seguindo orientações de Trump, também solicitou a liberação de documentos do caso de Nova York (2019) e do processo contra Maxwell, condenada a 20 anos por recrutar menores para Epstein. Os juízes desses casos ainda não se pronunciaram.

A estratégia de Trump e Bondi era acalmar a base MAGA, decepcionada com a conclusão do FBI de que “a lista Epstein” não existe e que ele de fato se suicidou. A decisão da juíza Rosenberg, porém, dificulta esse plano.

“Mãos amarradas”

Em sua decisão, Rosenberg afirmou estar com “as mãos atadas”, pois tribunais distritais não podem revelar testemunhos de grandes júris, exceto em circunstâncias específicas. O caso da Flórida resultou em uma pena leve para Epstein, gerando revolta entre as vítimas. O então promotor Alex Acosta, que negociou o acordo, mais tarde perdeu o cargo no governo Trump após críticas durante o movimento Me Too.

Na terça-feira, soube-se que o vice-procurador-geral Todd Blanche, ex-advogado de Trump, se reuniria “em breve” com Maxwell, que busca um perdão. Horas depois, o líder republicano Mike Johnson adiantou o recesso de agosto da Câmara para evitar debates constrangedores – uma manobra alinhada à estratégia de Trump para abafar o caso. Johnson é um dos aliados mais leais ao ex-presidente, que ainda não encontrou uma saída para a crise.

Reportagem do El País.

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