Com apenas 80 dias para o início da COP30 em Belém, o Brasil anunciou nesta sexta-feira (22) que somente 47 dos 196 países previstos confirmaram participação e hospedagem para a conferência. A pressão internacional sobre os altos custos de hospedagem na cidade tem gerado um impasse entre o governo brasileiro e a Organização das Nações Unidas (ONU), que solicita maior apoio financeiro para delegações de países em desenvolvimento.
Durante uma reunião na ONU na manhã desta sexta, representantes das delegações e a organização do evento discutiram as condições de hospedagem e as demandas dos países. No último mês, uma carta de nações participantes cobrou medidas do Brasil devido aos elevados preços das diárias. A ONU pediu que o governo brasileiro subsidiasse parte das hospedagens para países pobres, sugerindo um aporte de US$ 100 por delegação, mas a proposta foi rejeitada. “O governo brasileiro se posicionou dizendo que já está arcando com custos significativos para a realização da COP. Por isso, não há como arcar com subsídio para delegações de outros países”, afirmou a secretária executiva da Casa Civil, Miriam Belchior.
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Belchior destacou que o Brasil sugeriu que a ONU aumentasse o subsídio de US$ 140, valor atual que cobre alimentação e hospedagem, equivalente a cerca de R$ 756. Esse montante é insuficiente, já que a diária mais barata na plataforma oficial do evento é de US$ 350 (aproximadamente R$ 1,9 mil). A secretária argumentou que, em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro, o custo seria superior a US$ 200, e que a ONU deveria reconsiderar o valor do subsídio. “Nós falamos claramente que o país não tem condição, mas que a ONU poderia subir um pouco a contribuição. Em qualquer cidade do mundo eles pagariam, não estamos pedindo o que pagariam em Bonn, mas o que pagariam em São Paulo e no Rio de Janeiro”, explicou.
Dos 47 países confirmados, 39 conseguiram hospedagem pela plataforma fornecida pelo governo federal, majoritariamente nações em desenvolvimento, embora os nomes não tenham sido divulgados. Outros oito países – Egito, Espanha, Portugal, República Democrática do Congo, Singapura, Arábia Saudita, Japão e Noruega – fecharam acordos diretamente com hotéis. Para acelerar as confirmações, o governo anunciou uma força-tarefa para contatar as delegações e identificar dificuldades. “A gente acredita que muitos países estavam esperando a reunião de hoje do bureau para ver o que traríamos como respostas. É uma inferência nossa. A ideia é termos um grupo de pessoas para ligar para os pontos focais dessas delegações para saber o que está acontecendo e como podemos ajudar”, afirmou o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia. Ele destacou que há 33 mil quartos individuais disponíveis, contra uma demanda de 24 mil solicitada pela ONU, mas ponderou: “Seria o suficiente. O nosso problema é trazer isso a valores compatíveis com o poder aquisitivo”.
Os altos preços das hospedagens continuam sendo um desafio. A maioria dos estabelecimentos em Belém é particular, fora da rede hoteleira tradicional, o que limita a intervenção do governo. “Somos uma democracia, temos limites de intervenção no setor privado. (…) Estamos negociando no limite para que os preços possam baixar em Belém”, explicou Miriam Belchior. Em fevereiro e março, a rede hoteleira foi procurada para assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC), propondo que o preço máximo fosse equiparável ao do Círio de Nazaré, cerca de três vezes o valor normal. “É alguma coisa como três vezes o valor normal, que a gente acha que era razoável. Nós propusemos isso e achamos que na reunião eles estavam concordando e depois vem uma resposta feita por advogados que não tem acordo”, lembrou Belchior.
O governo brasileiro informou que busca alternativas para oferecer subsídios sem utilizar recursos públicos, enquanto enfrenta pressões para viabilizar a participação de delegações de países pobres na COP30.
Com informações do portal g1.