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Mensagens revelam papel de Epstein como conselheiro de Bannon em campanha pró-Trump
Termômetro da Política
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Mensagens de texto divulgadas por um comitê da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos na última quarta-feira (12) sugerem que Jeffrey Epstein, condenado por uma rede de exploração sexual de mulheres, muitas menores de idade, antes de supostamente se suicidar na cadeia, atuou como conselheiro nos bastidores de uma campanha publicitária pró-Donald Trump em 2018. As trocas indicam que Epstein deu dicas a Steve Bannon, principal estrategista durante o primeiro mandato do presidente dos Estados Unidos, ao longo de uma ofensiva midiática para defender o líder republicano e sua agenda em agosto daquele ano.

Trump e Epstein foram próximos durante os anos 1990 e início dos 2000
Trump e Epstein foram próximos durante os anos 1990 e início dos 2000 (Foto: Reprodução)

A troca de mensagens entre Epstein e Bannon durou seis dias, de 17 a 23 de agosto, e mostra o financista orientando o estrategista sobre aparições na televisão e priorização de recados políticos. Um lado da conversa foi enviado de uma conta do iMessage associada a um endereço de e-mail de Epstein. Embora o nome do correspondente esteja oculto nos documentos divulgados, pistas contextuais – incluindo referências a aparições na Fox News, sua demissão da Casa Branca em agosto de 2017 e seu trabalho no documentário “Trump @War” – deixam claro que o outro participante é Bannon. Não se sabe se o material divulgado é um trecho de uma conversa mais longa. Bannon, figura central na ascensão do populismo de extrema direita mundo afora e espécie de ponta de lança do movimento MAGA (Make America Great Again), não comentou a revelação.

Conselheiro informal

A conversa virtual ocorreu um ano após a conturbada saída de Bannon da Casa Branca, mas fazem um retrato detalhado de seus esforços para continuar apoiando Trump e mostram o envolvimento próximo de Epstein na elaboração de mensagens políticas sobre cortes de impostos, imigração e até mesmo revogações de autorizações de segurança. As trocas também revelam as reações dos dois homens a escândalos na época, como o que implicou o advogado de Trump, e portanto o próprio, no caso sobre o milionário e secreto pagamento que fizeram à ex-atriz pornô Stormy Daniels para que ela ficasse de boca fechada sobre um suposto caso extraconjugal que manteve com o republicano anos antes. Quando veio a notícia de que o editor do National Enquirer, David Pecker, havia recebido imunidade no caso, Bannon enviou uma mensagem de texto a Epstein dizendo: “Evento enorme, enorme”, seguida de: “Mais pagamentos a mulheres a caminho”.

As mensagens começam com Epstein oferecendo opinião sobre uma aparição de Bannon na TV. “Como foi?”, perguntou Epstein ao término da entrevista à MSNBC. “Saí mais cedo para chegar a tempo de assistir. Tudo bem?” Bannon respondeu: “Eles fizeram uma hora em vez de 30 minutos — exibiram a hora inteira em várias plataformas.” O financista respondeu prontamente: “Isso aí!” Os dois então trocaram piadas, com Epstein escrevendo: “Você estava tão impecável que pensei ter ligado o canal de patinação artística por engano.” Bannon respondeu: “Usei o meu look ‘sedutor’”, usando a expressão em inglês “come hither look“. Epstein retrucou, fazendo um jogo com as palavras: “Melhor do que o look ‘come Hitler’ de sempre.” O criminoso condenado então ofereceu um feedback ponderado sobre sua performance e aparência. “Nos últimos dez minutos, você ficou mais autêntico”, escreveu. Também deu conselhos detalhados sobre a encenação: “Sua aparência é a melhor, é muito importante que você assista à gravação. Por cima do ombro para ele, 3/4 para você. Iluminação… quente para você… cadeiras… muito restritivas para você.”

Em outras mensagens, ele demonstra ter papel ativo na criação dos principais pontos de discussão levantados por Bannon em suas aparições na mídia, particularmente sobre política econômica. “Podemos discutir a resposta às críticas ao corte de impostos. Os 83% para os ricos são extremamente enganosos. Dinheiro de volta. Fundos de pensão em alta”, escreveu. Em outro momento, acrescentou: “Corporações não são pessoas. Dar isenções fiscais a empresas é percebido como dar (benefícios) a alguém. A inflação salarial não pode ser o foco principal, o dinheiro adicional no sistema. Primeiro, o dinheiro é usado para contratar novas pessoas, só depois os salários podem subir.”

MAGA e esquemas

Epstein também reclamou de pessoas que estavam se voltando contra ele e sobre o tratamento aparentemente favorável que recebeu de promotores federais. Em 22 de agosto, ele escreveu: “Há um cara, totalmente maluco, que saiu da prisão depois de 20 anos e está enviando cartas sobre mim para todas as agências, me perseguindo etc. Quer um bilhão de dólares. Nenhuma ameaça real, apenas mais uma dor de cabeça.” Ele estava referindo-se a Steven Hoffenberg, preso em 1998 por envolvimento em um esquema de pirâmide de US$ 500 milhões – um dos maiores da história americana. De acordo com as alegações do homem e documentos judiciais, Epstein também estava implicado no crime. Em agosto de 2022, Hoffenberg foi encontrado morto em seu apartamento, aos 77 anos. Nas conversas, Bannon e Epstein também falavam sobre figuras do movimento MAGA, incluindo Peter Thiel, cofundador do PayPal, e Anthony Scaramucci, o diretor de comunicações de Trump, que teve uma passagem curta pelo cargo. O financista chegou a orientar que Bannon se encontrasse com Thiel e avisou que o “aproveitador” (Scaramucci) estava tentando fazer contato por meio de Ivanka Trump, a filha do presidente. Em outros momentos, a dupla pareceu tentar ocultar sua colaboração. Quando os dois tentaram marcar um encontro em Nova York, Epstein sugeriu que fosse “na calada da noite” em seu apartamento em Manhattan. Bannon ficou ressabiado, afirmando que temia que o local estivesse “grampeado”, repleto de escutas.

Com informações do portal Veja.

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