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Ex-comandante da Marinha no Governo Bolsonaro, Almir Garnier nega participação em plano golpista
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O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, afirmou ter atuado estritamente dentro de suas atribuições institucionais durante reuniões no Palácio do Planalto em que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) discutiu os resultados das eleições de 2022 e supostos planos golpistas para contestar a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Almir Garnier negou as acusações que a Procuradoria-Geral da República lhe atribui
Almir Garnier negou as acusações que a Procuradoria-Geral da República lhe atribui (Foto: Gustavo Moreno/STF)

Alvo de denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta colaboração com a articulação golpista, Garnier rejeitou as acusações, incluindo a de que teria planejado mobilizar tropas da Marinha para impedir a transição de poder. Em sua defesa, o ex-comandante reforçou que cumpriu apenas seu papel constitucional, sem qualquer envolvimento em ações que buscassem interferir no processo democrático.

“A Marinha é extremamente hierarquizada. Seguimos bem à risca o estatuto dos militares, que diz que a um subordinado é dado apenas o direito de pedir, por escrito, uma ordem que ele receba e considere flagrantemente ilegal”, disse Garnier nesta terça-feira (10), ao ministro Alexandre de Moraes, no segundo dia de interrogatórios do Núcleo 1 da trama golpista.

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“Eu era comandante da Marinha. Não era assessor político do presidente. E me ative ao meu papel institucional.” 

A PGR investiga a conduta de Garnier e outros militares que participaram dos encontros no Planalto, analisando se houve tentativa de desestabilização institucional após a derrota eleitoral de Bolsonaro. O ex-comandante, no entanto, insiste que suas ações se limitaram ao exercício regular da função, sem adesão a medidas extremas.

“Como é normal nas minhas atitudes, eu me atenho às minhas funções e responsabilidades”, acrescentou Garnier, negando que, durante a reunião ocorrida em 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro tenha aventado qualquer hipótese de ruptura autoritária do processo democrático.

“Havia vários assuntos [em pauta]. Entre eles, a preocupação do presidente [com a segurança pública]. E que também era nossa [preocupação]. Com as inúmeras pessoas que estavam insatisfeitas e que se posicionavam em frente aos quartéis do Exército, o que poderia trazer alguma dificuldade para a segurança pública – até porque não se sabia muito bem para onde iria aquele movimento”, destacou Garnier.

Segundo o almirante, além do próprio Bolsonaro, participaram do encontro de 7 de dezembro o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio, e o então comandante do Exército, general Freire Gomes, além de assessores presidenciais, como o então ajudante de ordens, Mauro Cid..

Ainda de acordo com Garnier, foram apresentados alguns tópicos e considerações acerca da possibilidade de decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), mas nenhuma minuta ou documento que conferisse alguma legalidade à proposta.

“Eu não vi nenhuma minuta. Não recebi nenhum documento, nenhum papel. Vi uma apresentação na tela de um computador. Lembro que o conteúdo dizia respeito à pressão popular nas ruas, considerando que havia insatisfação, pessoas nas portas dos quartéis e alguma coisa de caminhoneiros. Também havia algumas considerações acerca do processo eleitoral. Talvez, alguma coisa ligada à forma como as questões eleitorais aconteceram. Mas não me lembro dos detalhes”, disse Garnier. 

Ele negou ter dito, na ocasião, que as tropas da Força Aérea Brasileira (FAB) estariam à disposição de Bolsonaro, conforme o ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Júnior contou em depoimento à PF.

“Não houve deliberações. E o presidente não abriu a palavra para nós”, assegurou Garnier, insistindo que, durante a reunião, Bolsonaro não falou em golpe de Estado.

“Ele fez algumas considerações e manifestou o que me pareceu serem preocupações e análises de possibilidades – e não uma ideia ou intenção de conduzir as coisas em uma certa direção. A única que percebi e que me era tangível e importante era a preocupação com a segurança pública, para a qual, a GLO é um instrumento adequado, dentro de certos parâmetros.”

Sobre as eleições presidenciais, Garnier disse não ter recebido qualquer informação que indicasse a possibilidade de fraude no processo eleitoral ou problemas com as urnas eletrônicas, mas voltou a defender que “quanto mais transparentes os processos, maiores serão as garantias de que teremos transições pacíficas, desestimulando a necessidade de uma intervenção, como uma GLO”.

Interrogatórios

Até a próxima sexta-feira (13), o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal do Núcleo 1 da trama golpista, vai interrogar presencialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, Braga Netto e mais seis réus acusados de participar do “núcleo crucial” de uma trama para impedir a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o resultado das eleições de 2022.

O interrogatório dos réus é uma das últimas fases da ação. A expectativa é de que o julgamento – que vai decidir pela condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus – ocorra no segundo semestre deste ano.

Em caso de condenação, as penas passam de 30 anos de prisão. 

Fonte: Agência Brasil

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