Filipe Garcia Martins Pereira, de 37 anos, nascido em Sorocaba (SP) e criado em Votorantim, ganhou notoriedade como ex-assessor especial para Assuntos Internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Formado em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), Martins integrou o governo Bolsonaro desde janeiro de 2019, atuando como intermediário entre o ex-presidente e o Ministério das Relações Exteriores. Hoje, ele é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento na trama golpista para manter Bolsonaro no poder após as eleições de 2022. Além disso, setores da direita têm utilizado seu caso para denunciar supostas perseguições judiciais, atraindo atenção para questões de liberdade de expressão e direitos individuais.
Filipe Martins emergiu da militância virtual da direita brasileira, sendo apadrinhado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente. Adepto das ideias do escritor Olavo de Carvalho, mentor intelectual do bolsonarismo, Martins era parte da chamada “ala ideológica” do governo, conhecida por defender pautas conservadoras e alinhadas à extrema-direita. Ele se descrevia nas redes sociais como professor de política internacional e analista político, mas cessou publicações após as eleições de 2022. Sua proximidade com a família Bolsonaro e sua atuação no Palácio do Planalto o colocaram no centro de controvérsias, incluindo uma denúncia em 2021 por um gesto interpretado como supremacista branco durante uma sessão no Senado, pela qual foi condenado em dezembro de 2024.
Martins é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de integrar o “núcleo 2” de uma suposta organização criminosa que planejava um golpe de Estado em 2022, visando impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Martins teria elaborado e entregue ao ex-presidente uma minuta de decreto que previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a convocação de novas eleições – medidas sem amparo constitucional. A Polícia Federal (PF) aponta registros de sua presença no Palácio do Alvorada em datas de reuniões sobre a minuta, como 19 de novembro e 7 de dezembro de 2022.
Leia também
Família Bolsonaro perde força no Congresso e vê Alcolumbre como barreira contra ataques a ministros do STF
Preso em fevereiro de 2024 na Operação Tempus Veritatis, na casa de sua namorada em Ponta Grossa (PR), Martins ficou detido por seis meses. A PF inicialmente alegou que ele havia viajado aos Estados Unidos com Bolsonaro em dezembro de 2022, sugerindo tentativa de fuga, mas sua defesa apresentou provas, como faturas de cartão de crédito e registros de geolocalização da operadora TIM, mostrando que ele permaneceu no Brasil. Ele foi solto em agosto de 2024, mas está sujeito a medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica e proibição de deixar sua cidade.
Em interrogatório no STF em julho de 2025, Martins negou envolvimento com a minuta golpista, chamando-a de “minuta fantasma” e questionando a veracidade da delação de Mauro Cid. Ele também afirmou não ter participado de reuniões no Alvorada, apoiado por testemunhas como o general Paulo Sérgio Nogueira, que negou sua presença no encontro de 7 de dezembro. Sua defesa alega que não há provas documentais de sua ligação com o documento e critica a prisão como injusta.
Setores da direita brasileira têm usado o caso de Filipe Martins para denunciar o que chamam de “perseguição judicial” pelo STF, em especial pelo ministro Alexandre de Moraes. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) classificou a prisão de Martins como “injusta” e apontou a falta de provas concretas, destacando que ele foi mantido preso com base em uma suposta viagem aos EUA que não ocorreu. Postagens em redes sociais, como a do advogado Jeffrey Chiquini, reforçam a narrativa de que Martins sofreu “violações de direitos humanos” e foi pressionado a delatar Bolsonaro, o que ele recusou.
Além disso, a direita tem explorado episódios como a proibição de Martins conceder entrevistas, determinada por Moraes em agosto de 2024, para alegar censura e violação da liberdade de expressão. Uma coluna de opinião na Folha de S.Paulo, escrita por Lygia Maria, criticou a decisão, argumentando que ela é “aterradora” em um regime democrático. A suspeita de que dados falsos sobre a entrada de Martins nos EUA foram inseridos no sistema americano, investigada pelo FBI e pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA, também alimenta a narrativa de manipulação contra ele.
O caso de Filipe Martins tornou-se um símbolo para a direita bolsonarista, que o utiliza para mobilizar sua base contra o STF e reforçar a ideia de que aliados de Bolsonaro são alvos de uma “caça política”. A controvérsia sobre sua suposta viagem aos EUA, desmentida por documentos, e as condições de sua prisão, incluindo alegações de pressão psicológica, são citadas como evidências de abusos judiciais. Por outro lado, a PGR sustenta que as provas, como registros de entrada no Alvorada e a delação de Cid, justificam as acusações.
Enquanto o STF prossegue com o julgamento do “núcleo 2”, marcado para análise em sessões da Primeira Turma, o caso de Martins continua a gerar debates acalorados. Para seus defensores, ele é um mártir da liberdade; para os acusadores, um peça-chave em uma tentativa de subversão democrática. O desfecho do processo pode intensificar ainda mais a polarização política no Brasil.