A Polícia Federal (PF) realizou, na manhã desta quarta-feira (3), buscas e apreensões nos gabinetes de dez dos 24 deputados estaduais do Tocantins, como parte da segunda fase da Operação Fames-19. Autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a ação abrangeu endereços em Palmas, Araguaína (TO), João Pessoa (PB), Imperatriz (MA) e Distrito Federal, com o objetivo de “aprofundar as investigações sobre o desvio de recursos públicos voltados ao enfrentamento da pandemia de covid-19” e apurar o “uso de emendas parlamentares e o recebimento de vantagens indevidas por agentes públicos e políticos”. A operação resultou no afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) por seis meses.
Os alvos das buscas na Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) incluíram os gabinetes do presidente da Casa, Amélio Cayres (Republicanos), do 1º vice-presidente Léo Barbosa (Republicanos), do 2º vice-presidente Cleiton Cardoso (Republicanos), do 1º secretário Vilmar de Oliveira (Solidariedade), além dos deputados Claudia Lelis (PV), Ivory de Lira (PCdoB), Jorge Frederico (Republicanos), Nilton Franco (Republicanos), Olyntho Neto (Republicanos) e Valdemar Júnior (Republicanos). A assessoria da Aleto informou que os servidores prestaram “colaboração total e irrestrita ao STJ e à Polícia Federal no cumprimento integral das determinações contidas em dez mandados de busca e apreensão, com a devida disponibilização de todos os equipamentos, documentos e informações solicitadas”. A Procuradoria-Geral da Casa não teve acesso aos autos, e a Aleto afirmou que “não foi intimada sobre nenhuma decisão judicial relacionada ao caso, que ainda está em curso”.
As investigações, que tramitam em segredo de justiça no STJ, apontam que, entre 2020 e 2021, o governo do Tocantins pagou mais de R$ 97 milhões em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, com prejuízo estimado em mais de R$ 73 milhões. Os valores desviados teriam sido ocultados por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos envolvidos. A primeira fase da Operação Fames-19, deflagrada em 21 de agosto de 2024, já havia realizado buscas em endereços ligados a Barbosa e outros investigados.
O governador afastado, que assumiu o Executivo estadual em outubro de 2021 após o afastamento e renúncia de Mauro Carlesse, também investigado por suspeitas de propina, defendeu-se em nota: “É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesas”. Barbosa destacou que determinou auditorias pela Procuradoria-Geral do Estado e pela Controladoria-Geral do Estado sobre os contratos, com envio de informações às autoridades. “Além dessas providências já em curso, acionarei os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo de governador, comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população”, concluiu.
O governo estadual não se pronunciou oficialmente sobre as suspeitas ou o afastamento de Barbosa até o momento. A Operação Fames-19 segue em curso, com a PF buscando novos elementos para esclarecer o esquema de desvios durante a pandemia.
Fonte: Agência Brasil