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Nelson Wilians se cala na CPMI do INSS e pode se tornar investigado por fraudes
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O advogado Nelson Wilians optou por permanecer em silêncio durante depoimento nesta quinta-feira (18) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, presidida pelo senador Carlos Viana (Podemos-MG). Arrolado como testemunha em investigações sobre fraudes que lesaram aposentados e pensionistas em todo o Brasil, Wilians enfrentou questionamentos de senadores e deputados sobre relações pessoais, profissionais e movimentações financeiras atípicas, apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em R$ 4,3 bilhões. O silêncio, protegido por habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), pode transformá-lo em investigado, segundo o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL).

Nelson Wilians negou repetidamente qualquer envolvimento com as fraudes na Previdência
Nelson Wilians (à direita) negou repetidamente qualquer envolvimento com as fraudes na Previdência (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Wilians negou repetidamente qualquer envolvimento com as fraudes na Previdência, afirmando abominar os crimes que classificou como “hediondos”. Apesar de inicialmente aceitar o termo de compromisso para falar a verdade, após consultar seus advogados, ele recuou para preservar o direito de se calar diante de perguntas incriminatórias. Presente por mais de seis horas, ele saiu várias vezes para consultar sua defesa. “As suas respostas evasivas mostram uma ausência de explicação sobre coisas simples. (…) Chega aqui como uma testemunha e sai daqui como um provável investigado pela CPMI. Não havia razão para em muitas das perguntas ele ter como resposta esse silêncio. O silêncio dele falou muito alto”, declarou Gaspar em entrevista à imprensa durante o intervalo.

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As suspeitas recaem sobre a relação de Wilians com Maurício Camisotti, investigado como beneficiário de descontos indevidos via associações ligadas aos lesados, e com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”. Wilians admitiu conhecer Camisotti desde 2015, apresentado por um amigo em comum, evoluindo de contato profissional para amizade, mas negou proximidade com Antunes. Ele foi alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Sem Desconto, conduzida pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), que prendeu Camisotti.

O relator questionou se a “fortuna e a ostentação” de Wilians, com movimentações de mais de R$ 4 bilhões, poderiam decorrer do roubo a aposentados, além de indagar sobre a busca e apreensão da PF e o pedido de prisão negado por André Mendonça. “Com relação à Polícia Federal, ela cumpre o seu papel. Ela tem um papel nobre, institucional, assim como as instituições, assim como esta Comissão, assim como o nosso Senado, o nosso Congresso, o Judiciário, todos têm seu papel. O papel é de apurar. Se a Polícia Federal achou que aquele seria o caminho, é um direito dela. A mim cabe respeitar, a mim cabe acatar”, respondeu Wilians, evitando críticas à corporação. Gaspar sugeriu que isso pode indicar “novas descobertas”.

Deputados e senadores pressionaram Wilians sobre doações políticas de R$ 10 mil a Jorge Dória, Rogério Marinho e Antonio Anastasia, R$ 5 mil a Marco Bertaiolli e Emídio Pereira de Souza (2016-2022), e sobre supostos R$ 28 milhões transacionados com Camisotti, ligados a aposentados. Ele negou esperar “algo em troca” e se calou ao ser questionado sobre José Dirceu e a Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC). O vice-presidente Duarte Jr. (PSB-MA) destacou R$ 15 milhões repassados a Camisotti, citando bens como uma adega de vinhos importados e um jardim de R$ 22 milhões. “Conta para a gente esse case de sucesso de pagar para trabalhar e ter uma adega só com vinhos importados, ter carros importados, ter jatinho, ter, inclusive, um jardim que foi comprado pelo Camisotti e que custou R$ 22 milhões? (…) E a gente tem que registrar. Porque você está tendo oportunidade de falar, de se defender, de se justificar, de denunciar bandidos que roubaram idosos, pessoas que estão morrendo, porque foram violadas. Mas você está calado”, disse.

O senador Jorge Seif (PL-SC) criticou: “O homem que se senta nessa mesa, Nelson Wilians, repete como um papagaio: ‘Não tenho nada a ver com o objeto dessa CPMI’. Diz que respeita as instituições, mas debocha e não responde às perguntas que lhe são direcionadas. (…) O silêncio do senhor Nelson ou suas frases são tão ensurdecedores quanto sua culpa moral. E a sociedade precisa dar nome a essa postura: o advogado dos bilhões que enriqueceu enquanto aposentados empobreciam”. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) apontou um “novo paradigma de corrupção”, destacando a diferença entre os governos Lula e Bolsonaro. “O presidente Lula, vendo que havia servidores públicos diante da autorização da ACT, retornou o dinheiro para esse trabalhador, para o aposentado brasileiro. No Governo do ex-presidente Bolsonaro, que recebeu várias denúncias, não reconheceu isso e não houve o retorno de nenhum real para o aposentado que teve o seu dinheiro subtraído com os descontos associativos de forma irregular”, disse.

O deputado Beto Pereira (PSDB-MS) defendeu a suspensão imediata de contratos do escritório de Wilians com órgãos públicos, citando Camisotti como patrono de associações fictícias. “Um dos seus clientes, Camisotti, era patrono de diversas dessas associações, em nome de laranjas, e essas associações formavam contratos fictícios com escritórios de contabilidade e também escritórios de advocacia. O seu escritório, hoje, está no olho dessa investigação, inclusive com um pedido de prisão do senhor por parte da Polícia Federal”, afirmou. Wilians rebateu que o pedido foi negado por Mendonça “exatamente por não haver fundamento para ela”.

O senador Marcio Bittar (PL-AC) chamou o escândalo de “o mais cruel” por atingir vulneráveis, pedindo quebra de sigilo de empresas de Wilians. Rogério Marinho (PL-RN) alegou afrouxamento de controle no governo Lula desde agosto de 2023, com 1,5 milhão de reclamações em 2024 contra 40 mil em 2019, criticando a inação. “Com as 40 mil, quatro entidades foram fechadas; com 1,53 milhão, o governo do presidente Lula não fez nada. Mas nós escutamos aqui uma narrativa recorrente, a narrativa é: quem investigou o problema fomos nós [governo]. Não é verdade”, disse. Parlamentares como Paulo Pimenta (PT-RS) e Soraya Thronicke (Podemos-MS) questionaram ofensas a Wilians por exercer o direito ao silêncio.

Viana anunciou que a CPMI não impetrará mandado de segurança sobre a decisão de Mendonça que facultou o comparecimento de “Careca do INSS” e Camisotti, mas pedirá reconsideração e agravo interno para revisão ou decisão colegiada. A PF busca autorização do Supremo para que os dois sejam ouvidos na sede policial.

Fonte: Agência Senado

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