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Funcionária fantasma de Hugo Motta acumulava salários em duas prefeituras enquanto mantinha cargo na Câmara
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Louise Figueiredo de Lacerda, ex-secretária parlamentar do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), acumulou o salário de seu cargo no gabinete com empregos como médica nas prefeituras de João Pessoa e Alhandra (PB), mesmo após ser identificada como funcionária fantasma em uma denúncia da Folha de S.Paulo em julho. A exoneração de Louise só ocorreu após novas indagações da imprensa, conforme revelado na sexta-feira (10).

Além de ser comissionada no gabinete de Hugo Motta (foto), médica era funcionária de mais duas prefeituras (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

A Folha já havia apontado em julho que Motta mantinha três funcionárias fantasmas em seu gabinete, incluindo Louise, filha de um aliado político do deputado. Na época, ela ainda cursava medicina na Faculdade Nova Esperança, em João Pessoa, em período integral, e chegou a morar em outro estado enquanto estava contratada como assessora. Mesmo após a denúncia, Louise foi a única das três mantida no cargo. Desde então, ela se formou e passou a atuar como médica, sem abrir mão da função no gabinete de Motta.

Acúmulo de cargos e salários

Louise começou a trabalhar no gabinete de Motta em agosto de 2018, com um salário de R$ 2.800, além de R$ 1.800 em auxílio, totalizando cerca de R$ 240 mil recebidos até outubro de 2025. Em agosto deste ano, ela foi contratada pela Prefeitura de João Pessoa como médica, com salário mensal de R$ 9.400, recebendo pagamentos em agosto e setembro enquanto ainda estava vinculada ao gabinete de Motta. Em 18 de setembro, Louise também passou a atuar na Prefeitura de Alhandra, a 40 km da capital paraibana, com uma carga horária de 20 horas semanais, segundo o sistema do Ministério da Saúde, embora o salário desse vínculo não tenha sido divulgado.

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O cargo de secretária parlamentar exige uma jornada de 40 horas semanais e proíbe o exercício de outra função pública. No entanto, a ausência de controle efetivo de jornada, como a falta de exigência de ponto biométrico na Câmara, permitiu que Louise acumulasse os cargos. Ela era contratada para auxiliar Motta na Paraíba, sem qualquer monitoramento rigoroso de suas atividades.

Exoneração após questionamentos

Procurado pela Folha na quarta-feira (8), Hugo Motta afirmou que Louise não fazia mais parte de seu gabinete. O site da Câmara, atualizado após o contato da reportagem, indica que ela trabalhou até terça-feira (7), embora o ato de demissão ainda não tenha sido publicado nos boletins administrativos. Em julho, Motta havia declarado, por meio de sua assessoria, que prezava pelo “cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara”.

Louise, por sua vez, afirmou à Folha na quinta-feira (9) que não está mais no gabinete de Motta “tem um tempinho”, mas disse não se lembrar do mês de sua exoneração. Ela negou ter vínculo com a Prefeitura de Alhandra, afirmando que seu único contrato atual é com a Prefeitura de João Pessoa. Questionada sobre quando deixou Alhandra, respondeu que “não vinha ao caso”, apesar de o sistema do Ministério da Saúde ainda registrar seu vínculo ativo. Em julho, ao ser contatada pela Folha sobre o caso, Louise desligou o telefone, não respondeu aos questionamentos e bloqueou o número da reportagem no WhatsApp.

O caso expõe falhas no controle de frequência e acumulação de cargos públicos, levantando questionamentos sobre a gestão de pessoal no gabinete do presidente da Câmara e a fiscalização de vínculos empregatícios no setor público.

Com informações da Folha de S.Paulo.

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