Cultura -
Fest Aruanda: “Miami-Cuba” questiona a dicotomia entre o Altiplano e o Centro Histórico de João Pessoa
Grace Vasconcelos - sob supervisão de Felipe Gesteira
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(Imagem: Divulgação)

A expressão “Miami-Cuba” dá nome ao filme de Caroline Oliveira, que pretende levantar questionamentos sobre a dicotomia entre a Orla e o Centro Histórico de João Pessoa. “São duas cidades diferentes, parece que estamos atravessando portais”, analisa a diretora. O filme resgata personagens, não necessariamente famosos, mas que movimentam o centro da cidade. O filme Miami-Cuba (2021) terá sua estreia nacional na Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino de Longas-Metragens, da 16° edição do Fest Aruanda, neste sábado (11).

Entre o Centro Histórico e a Orla, existe uma nítida diferença abordada no documentário. A percepção de Caroline é que o primeiro está sendo esquecido, pouco acolhido e visitado, tanto pelos pessoenses quanto pelos gestores públicos, que não revitalizam o espaço. “O Centro Histórico está relegado ao comércio e ao medo da violência. A partir das 17h30 começa o esvaziamento, e é como se não pudesse ter mais vida ali”, analisa a diretora. Já a Orla, principalmente a região do Altiplano, apresenta o ideal de modernização, reivindicando um estilo Miami, enquanto o Centro permanece abandonado.

“O público vai assistir um filme que levanta questões sobre os nossos modos de ser, estar, viver e habitar, sobre as nossas escolhas, ideologias, como ocupamos as cidades e como as políticas públicas se tornam cruciais, mas não necessariamente responde essas questões”, explica Caroline.

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A diretora Caroline Oliveira explica que a equipe alugou um apartamento durante seis meses no Edifício Presidente João Pessoa, conhecido popularmente como “Dezoito Andares”, localizado no coração do Centro Histórico da cidade. Com vista para o rio que deu origem ao município, o Rio Sanhauá, os produtores pesquisaram personagens, mas também dialogaram e descobriram pessoas que eram expressivas na região, e que foram documentadas na obra.

Ao todo são 31 personagens presentes no filme, entre eles a ex-vereadora Sandra Marrocos, Tibério Limeira (secretário de Desenvolvimento Humano do Estado da Paraíba), José Godoy (procurador da República na Paraíba), Vó Mera (Mestra de Côco e Ciranda), a atriz Suzy Lopes e Ricardo Pinheiro (atual proprietário da Livraria do Luiz). Além deles, outros personagens que vivem, frequentam e trabalham no Centro Histórico como produtores culturais, prostitutas, lideranças do Porto do Capim, bailarinos, artistas, estilistas, empresários e curadores.

A vontade de documentar o Centro é também afetiva, já que a diretora cresceu em João Pessoa e lembra os dias que visitava a região com os avós, que a levavam para passear no Parque Solon de Lucena e os dias de Festa das Neves. Para ela, estrear no Fest Aruanda é poder estar em casa e refletir junto com outros pessoenses sobre os questionamentos trazidos em Miami-Cuba.

Sinopse do filme

Miami-Cuba é uma imersão audiovisual pelo Centro Histórico de João Pessoa, com breves deslocamentos por lugares simbólicos da sua orla. Em especial, o recém verticalizado bairro do Altiplano, para onde parece caminhar o seu atual projeto de desenvolvimento urbano.

Tem como dispositivo cinematográfico a ocupação de um apartamento no edifício “18 Andar”, primeiro “arranha-céu” e marco inicial de modernização da capital. Obra que configura-se também num tipo de sentinela desta região central da cidade, tombada como patrimônio histórico pouco após a sua construção. Dessa forma, o filme termina sendo fruto de derivas pelo seu entorno, outras localidades deste centro, assim como da praia. Durante seis meses, incluindo pesquisas, pré-produções e gravações, a diretora e parte da equipe técnica vivenciaram esse processo artístico-imersivo.

Um documentário performativo que caminha com personagens pré-pesquisados e outros que foram sendo encontrados na jornada de gravações… Pessoas expressivas da cidade da Parahyba, conhecidos e/ou anônimos, que divagam sobre as suas experiências urbanas, modos de se viver, conviver, existir e resistir. Reverberando problemáticas locais que ganham uma dimensão universal, como a questão do despejo da comunidade ribeirinha e centenária Porto Capim.

Intenciona ser um tipo de ensaio reflexivo não apenas sobre a marcante dicotomia arquitetônica entre o centro e a orla de João Pessoa, e o quanto isso fala sobre o seu histórico de modernização. E sim também sobre as nuances políticas, econômicas, sociais, culturais, etc., imbricadas nisso.

Miami-Cuba também pode ser visto como uma cartografia afetiva, espacial e histórica da arte-vida citadina, que ganhou ainda mais potência e camadas neste contexto de pandemia, onde todos precisam se reinventar neste sistema capitalista em evidente decadência, falência urbana, desterro… É um filme que fabula sobre a necessidade de reencantamento do mundo a partir da plenitude do ser e estar em comunidade, e não do ter e individualizar-se na cidade.

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