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Cultura e saúde mental: luta contra a LGBTfobia é tema do 2º sarau “Elo Abre Portas”, em João Pessoa
Laura de Andrade - sob supervisão de Felipe Gesteira
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A luta contra a LGBTfobia é tema da segunda edição do sarau “Elo Abre Portas”, realizado pelo espaço coletivo de cuidado em saúde mental, o Espaço Elo. O momento pretende chamar atenção para a importância no combate ao preconceito, e será permeado de música, dança, depoimentos e feirinha artesanal. Acontecerá no próximo sábado (6), a partir das 16 horas e a entrada é gratuita. “O Evento é aberto a toda a comunidade e pessoas de todas as idades, pois acreditamos que cuidado se faz coletivamente”, disse a sócia-fundadora do Espaço Elo e psicóloga paliativista, Milena Donato. 

“Cuidado em saúde se faz com garantia de direitos e muito afeto”, diz Milena Donato (Foto: Reprodução)

O sarau tem como propósito elucidar a população sobre a importância do combate à LGBTfobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e mais igualitária, independente do gênero sexual. E, também, gerar o desenvolvimento de uma conscientização civil sobre a importância da criminalização da homofobia. A data escolhida foi em alusão ao dia 17 deste mês, o dia que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou oficialmente a homossexualidade da lista internacional de transtornos mentais, em 1990.

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O local do evento é um espaço coletivo de cuidado em saúde mental, e tem como propósito a atenção às questões sociais que permeiam este cuidado. “Cuidado em saúde se faz com garantia de direitos e muito afeto”, pontuou Milena. Ações como esta, em conjunto, são importantes no combate ao preconceito ainda existente na sociedade. 

“Pensar a saúde mental coletiva é contribuir para uma sociedade menos preconceituosa! Num contexto social e político marcado por intensas manifestações de discriminação, de violações e violências sofridas pela população LGBTQIAP+, destacamos o quanto o cuidado em saúde mental deve estar aliado ao fortalecimento do direito de ser o que se é”, enfatizou Milena.

Para a sócia-fundadora do Espaço Elo, uma cultura que integre e respeite todas as possibilidades de existir é fundamental. “Direitos LGBTQIAP+ são Direitos Humanos, precisamos abrir espaços para discussões que integrem, respeitem e valorizem os que hoje ainda vivem precisando se esconder pelo risco de morrerem por simplesmente existirem”, disse.

Perguntada sobre a importância da rede de apoio para pessoas LGBTQIAP+ em sofrimento mental, a psicóloga pontua que pode ser desafiador viver sozinho. E para pessoas que sofrem preconceito por serem quem são, as chances aumentam. “Por isso, abrir espaços de cuidado que possibilitem o encontro com seus pares é de extrema importância para o fortalecimento da autoestima, para nos sentirmos mais encorajados para seguir acreditando na possibilidade de existir enquanto cidadãos e pessoas livres e com possibilidade de criar”, pontua.

Os efeitos da Pandemia na saúde mental de pessoas LGBTQIAP+ 

O estudo “LGBT+ na Pandemia”, do ano de 2021, realizado pelo coletivo #VoteLGBT e em parceria com a Box1824, trouxe que, em 2020, os dois principais impactos que atingiram a comunidade LGBTQIAP+ durante os primeiros meses da pandemia de covid-19 foram o afastamento da rede de apoio, em decorrência do distanciamento social que o momento necessitava, e a piora da saúde mental, como reflexo. 

Entre os participantes da pesquisa, mais da metade (55,1%) considerou piora na condição da saúde mental com a pandemia. E cerca de 55% receberam o diagnóstico de risco de depressão mais severa. 

Causas que mais afetam a saúde mental de pessoas LGBTQIAP+

A psicóloga paliativista afirma que a maior causa de sofrimento mental dos casos clínicos atendidos por ela entre pessoas que são LGBTQIAP+ está associada à não aceitação da orientação sexual pelo núcleo familiar e pela sociedade. Para romper com esse padrão, Milena sugere que a sociedade possa contribuir com o diálogo e escuta. “Se esconder é o caminho majoritariamente escolhido. E isso gera sofrimento. A sociedade contribui para o alívio do sofrimento quando abre espaços para ser falado sobre essas temáticas da diversidade e a para a escuta das histórias de sofrimento e vitórias. Ao se falar sobre o tema, abre a possibilidade de descortinar o que antes era desconhecido”, avalia.

Ondas do conservadorismo

No ano passado, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que cerca de 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declararam lésbicas, gays ou bissexuais em 2019, correspondente a 1,8% da população adulta da época. O número é expressivo, mas, ainda hoje, conquistas dos LGBTs vêm sendo ameaçadas pela onda crescente do conservadorismo da sociedade. 

O aumento de casos de sofrimento mental causados pela LGBTfobia, além de transtornos de ansiedade e depressão, e até mesmo tentativas de suicídio fazem parte dessa realidade.

Mas o que é a LGBTfobia?

Segundo o Observatório de Mortes Violência Contra LGBTI+, a LGBTfobia, ou homofobia, como é frequentemente usado como sinônimo, é a discriminação, averesão ou ódio, de conteúdo individual ou coletivo, baseado na inferioridade das pessoas LGBTQIA+ em relação à heteronormatividade. O preconceito decorre da rigidez imposta socialmente sobre quem esperam que as pessoas sejam e quem devem amar. 

A homofobia também é crime. Em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu a favor da criminalização da LGBTfobia, equiparando-o ao crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/89. 

Na Paraíba, entre as leis estaduais em proteção aos direitos das pessoas LGBTQIAP+, estão a de nº 7.309, de 10 de janeiro de 2003, que proíbe a discriminação em virtude de orientação sexual. E a de nº 32.159, de 25 de maio de 2011, dispõe sobre o tratamento nominal e a inclusão e uso do nome social de travestis e transexuais nos registros estaduais relativos a serviços públicos prestados no âmbito do Poder Executivo. 

Luta antimanicomial

Ainda durante o  2º sarau “Elo Abre Portas”, será abordada a luta antimanicomial, por se tratar de uma pauta importante na luta pelos direitos da pessoa em sofrimento mental. “E junto com isso levantaremos o tema da Luta Antimanicomial, que é celebrado no dia 18 de maio como marco importante na desinstituição dos manicômios e na luta pelos direitos das pessoas em sofrimento mental pelo cuidado em liberdade. Duas datas importantes de luta e garantia de direitos”, publicou o Espaço Elo na rede social digital Instagram.

“O Sarau é o movimento que o ELO – Espaço Terapêutico, comprometido com o bem-estar bio, psíquico e social, convida a sociedade (pacientes, familiares, profissionais, artistas, dentre muitos) para refletir, sonhar e construir um mundo mais humano e cuidadoso”, finalizou Milena Donato.

Evento gratuito

Data: 06/05/2023

Local: Rua Nevinha Cavalcante, 105 – Miramar, João Pessoa – PB, 58043-000

Horário: A partir das 16 horas da tarde.

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