Política -
Pacto da masculinidade mantém prestígio de Fabio Tyrone, mesmo condenado por agredir fisicamente a ex-namorada
Laura de Andrade - sob supervisão de Felipe Gesteira
Compartilhe:

Há uma expressão na internet chamada “passar pano”. Normalmente é utilizada em situações em que um personagem acoberta o outro de alguma ação, ou até omite algo negativo sobre alguém, tudo em nome da parceria. Normalmente, o acontecimento passa a ser desprezível quando comparado ao valor pessoal daquela pessoa. Atualmente, os homens que integram o Partido Socialista Brasileiro (PSB) na Paraíba estão em silêncio sobre a condenação por agressão física à ex-namorada do prefeito de Sousa, Fabio Tyrone (PSB), do mesmo partido. A “passada de pano” surge como um tipo de pacto da masculinidade entre aqueles que se protegem. Afinal, em comum e além do partido, eles são homens. Por outro lado, as mulheres que compõem o partido parecem se unir.

Fábio Tyrone discursou durante plenária do Orçamento Democrático Estadual, em Sousa, dia 7 deste mês (Foto: Francisco França/Secom-PB)

Foi no ano de 2018 que Fabio Tyrone agrediu fisicamente sua ex-namorada, a advogada Myriam Gadelha, que também é filiada ao PSB. Ao voltar para casa, a vítima foi agredida com um tapa no rosto, além de ser xingada, derrubada no chão e chutada várias vezes. O processo contra Tyrone se arrastou por cinco anos, até chegar o dia da sua condenação e, com ela, a sentença: pena de um ano, quatro meses e sete dias de detenção em regime aberto, como também o pagamento da indenização na quantia de R$ 15 mil à vítima.

Veja também
BNDES e fundo da ONU lançam edital de R$ 1 bilhão para Sertão nordestino

Tyrone está em seu terceiro mandato como gestor da Prefeitura de Sousa. Eleito pela primeira vez em 2008, depois em 2016, ele foi reeleito em 2020 e sustentado nas suas atividades mesmo com as denúncias de agressão. Hoje exerce as suas funções políticas e encara a condenação pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de João Pessoa.

Masculinidade tóxica é ensinada e perpetuada na sociedade

Para a ativista dos direitos das mulheres, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Gloria Rabay, a prática de violências contra as mulheres acontece há tantos anos que a dor passou a ser, por muitos, naturalizada na sociedade e assegurada pelas instituições sociais, inclusive por parcela das próprias mulheres. Ou seja, os homens não só protegem-se entre si, como toda a sociedade se movimenta para garantir que essas ações sejam minimizadas. “O processo de educação para a opressão das mulheres é secular, ele acontece nos livros religiosos, nos ritos, na escola, na família, na universidade, entre os amigos […] São práticas culturais históricas, seculares que ensinam aos homens e mulheres a acharem que essa violência é normal”, disse a ativista.

O pacto de manutenção de poder e de prestígio entre os homens na política corrobora para que tudo o que não faça parte de uma masculinidade branca, cis, hegemônica e heterossexual seja vista como algo inferior, e se manifesta no cotidiano da sociedade, acredita Rabay. “O que incentiva o tempo inteiro as práticas de violência é o silêncio, é a impunidade, é a certeza de que o que se está fazendo faz parte de um costume e que ninguém vai reprimir”, afirmou.

As mulheres do partido

A discordância entre os membros do partido é visível: de um lado, os homens parecem se esquivar de opinar sobre o caso. Do outro, as mulheres do partido parecem se unir a favor da vítima. Ao ter conhecimento sobre a condenação, a Secretária Nacional de Mulheres do PSB, Dora Pires, afirmou que as instâncias do partido não iriam se omitir ao absurdo, que tomaria as atitudes cabíveis e o classificou como “caso gravíssimo”.

Em seguida, Sandra Marrocos (PSB), a partir de publicação na rede social digital Instagram, comemorou o posicionamento de Dora e reiterou que aguarda o posicionamento do partido na Paraíba, além de prestar solidariedade à vítima. A rede ficou ainda mais extensa com o comentário da secretária de Estado da Diversidade Humana, Lídia Moura: “Não esperei ele ser condenado não. Me posicionei desde que Myriam sofreu a agressão. E além disso implantamos equipamento público em Sousa para que todas as mulheres tivessem proteção”, disse em comentário na postagem de Sandra. Lídia Moura não é do partido, mas integra a base do governador João Azevêdo (PSB), outro que não se manifestou a respeito.

O Termômetro da Política entrou em contato com o presidente do PSB na Paraíba e deputado federal Gervásio Maia, mas o mesmo não respondeu e nem retornou. A Secretária Estadual de Mulheres do PSB da Paraíba, Pollyanna Dutra, afirmou que a instância estadual não se reuniu para tratar sobre o tema.

Compartilhe: