Graduado em Letras e Direito e mestre em Organizações Aprendentes pela UFPB
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Choro
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Hoje, eu chorei. Fazia tempo que eu não chorava. Fui tanto tempo chorão que me estranhava sem o choro. Chorei muito como chuva de verão. Forte, intensa, demorada, caindo de muitas gotas sem ser do céu. Chorei de olhos fechados lágrimas de sal feito mina d’água que brota para se esparramar pela face, por debaixo da máscara cirúrgica, que molhada se descartou.

Chorei pelo nariz lágrimas esbranquiçadas como uma leguminosa arrancada de um broto. Chorei pela garganta que esqueceu a secura pra se deixar molhar em gotos longos e sucessivos. Engolidos.

Chorei tanto que parecia um adulto. Um adulto clamando a criança perdida por dentro de seu corpo. Como se buscasse uma clarividência de uma alma que pena pelas ruas da cidade porque nas trilhas verdes dos sítios de sua infância, comadre fulorzinha o protegia pela oferenda de um pedaço de fumo de rolo.

Chorei. Não sei se foi como o choro de Nietzsche, mas chorei. Chorei porque não soube ser um choro de Pixinguinha. Não soube ser carinhoso!

Por isso chorei.

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