Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Música de Chico César contra Bolsonaro amplia acirramento
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Nova música do paraibano Chico César busca atacar apoiadores de Bolsonaro, mas fortalece acirramento e beneficia o presidente (Foto: Reprodução/Instagram/oficialchicocesar)

Com “Bolsominions são demônios”, o cantor e compositor paraibano Chico César usa sua música para atacar os apoiadores mais aguerridos de Jair Bolsonaro (sem partido), porém, termina dando um tiro no pé, pois intensifica o acirramento dos extremos políticos e fortalece o presidente da República junto ao seu rebanho.

A música parece ter sido executada pela primeira vez durante uma transmissão ao vivo realizada pelo artista. Pouco tempo depois, o trecho do vídeo já circulava de forma viral por meio dos diversos aplicativos de trocas de mensagens. Não demorou para a música ser mal interpretada pela ala cristã conservadora que serve como base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Evangélicos mais conservadores reclamaram que a música agredia a fé cristã com a letra “Bolsominions são demônios/Que saíram do inferninho/Direto pro culto para brincar de amigo oculto com satã num condomínio”. A polêmica rendeu ao músico um voto de repúdio pela Câmara Municipal de João Pessoa.

Bolsominions

Antes de entrarmos no mérito do efeito político deste protesto em forma de canção feito por Chico César é preciso destacar que o termo “bolsominion” não se refere necessariamente a todos os eleitores que votaram em Jair Bolsonaro no pleito de 2018. Isso na verdade é a lógica que os mais fervorosos da extrema-direita querem impor, se fazendo de vítimas e tentando arregimentar mais pessoas para sua trincheira de batalha.

Bolsominion é somente aquele eleitor que, apesar do desgoverno que tem sido a gestão do presidente Jair Bolsonaro, continua fiel ao “mito”. O “minion”, como também é conhecido, fecha os olhos para o desastre na economia, ou para a política que mais causou danos ao meio ambiente de todos os tempos. O bolsominion gado puro de origem não enxerga que das cem mil mortes causadas pela covid-19, num país que não tem qualquer plano efetivo de enfrentamento à doença, muitas poderiam ter sido evitadas. O bom bolsominion prefere acreditar na cloroquina, no remédio de piolho, nos inimigos imaginários e na ameaça do comunismo.

Também é importante pontuar que, assim como “racismo reverso” e “heterofobia”, também não existe “cristofobia”. Tentar vitimizar grupos majoritários e historicamente opressores por conta de uma suposta ofensiva da minoria é o enredo fantasioso preferido dos canalhas que defendem o bolsonarismo.

Chico César contra Bolsonaro

Não é fácil viver no Brasil de Jair Bolsonaro e de seus minions. É preciso coragem todos os dias para enfrentar o cotidiano em uma nação onde parte significativa da população nega a ciência. Somente com muita fé para acreditar no futuro diante de um conservadorismo que ganha cada vez mais espaços de destaque, tem voz ativa, políticas públicas a seu favor e ainda se encontra entranhado nos mais diversos setores da máquina pública.

Por isso, entendo perfeitamente Chico César. “Bolsominios são demônios” não se trata de um ataque, mas um desabafo contra o obscurantismo que assombra o Brasil. E Chico César não é qualquer um. A letra composta por um artista consagrado no cenário da música nacional tem grande impacto. Justamente por isso é tão importante evitar fazer o jogo do adversário.

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É no acirramento que Bolsonaro se fortalece. Se ele ganhou popularidade por conta do auxílio emergencial, esta mesma aprovação é flutuante, e deve cair com os maus resultados que virão do governo nos próximos anos. Até 2022 tem muito chão pela frente. E para manter a base de apoio firme, aqueles 30% sempre fiéis ao mito, é preciso ter disputa constante. Foi isso o que Chico César fez, levantou a bola para que os conservadores cortassem. Deu faca, queijo, e ainda a desculpa do ataque religioso, que mesmo não tendo existido, é das mentiras que eles adoram utilizar.

Assista abaixo ao vídeo em que Chico César canta sua nova composição durante uma transmissão ao vivo. A seguir, confira a letra da música.

Bolsominions são demônios
Que saíram do inferninho
Direto pro culto para brincar de amigo oculto com satã num condomínio

Bolsominions são vergonhas
Que pastavam distraídos
Whisky modesto, horror a festa
E a risada instruída

A bolsa de valores sem valores
Os corpos molhados sem alma
O sangue de barata e a raiva por toda humanidade que não quer ser salva

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