Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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James Rodríguez (Foto: Reprodução/Instagram)

O astro colombiano James Rodríguez ainda não saiu do São Paulo. Pode ser que saia hoje, enquanto escrevo esta coluna e a publicação chegue defasada no dia seguinte. Ele deu indícios de que fica, disse em sua conta na rede social digital Instagram que “adversidades criam oportunidades”. O texto foi publicado associado a uma foto de treinamento com a camisa tricolor. Se fica ou sai, até aqui tem se mostrado um mal negócio, mas acertos e erros fazem parte do cenário das contratações pelos clubes de futebol. Enquanto James não se decide, diretores do clube justificam que ele já trouxe algo de bom com o engajamento de seus seguidores, projetando o São Paulo para outro patamar midiático. Será? Vamos aos números.

Levantamento recente feito por um torcedor e publicado nas redes sociais aponta que James tem mais seguidores do que todo o elenco do São Paulo junto. Ao isolarmos somente a rede social Instagram, o colombiano tem 51,9 milhões de seguidores. É mais do que toda a população da Colômbia (51,5 milhões) e quase oito vezes o número total de seguidores do clube São Paulo (6,5 milhões). É preciso reconhecer a fama do jogador, pois trata-se do maior astro colombiano dos últimos anos, mas, ao mesmo tempo, questionar até que ponto o número de seguidores, curtidas e engajamento numa rede social representam popularidade. E ainda, se esta popularidade está mesmo relacionada ao sucesso do profissional em sua área de atuação.

Em tempos de redes sociais, há quem compre seguidores, curtidas e comentários. Dessa forma é possível alcançar números expressivos com robôs, tudo fake. Mesmo que a conta não seja 100% movimentada de maneira automatizada, esta possibilidade viabiliza impulsionamento ao tráfego. No âmbito desconhecido e com dados protegidos pelas empresas, fica fácil ‘fabricar’ assim uma falsa fama. E no caso da figura pública que nunca comprou um mísero seguidor, o ‘sucesso’ pode ser resultado de um trabalho de comunicação bem executado visando maior alcance nas redes. Mas fora do ambiente digital e das telas, não há como mentir diante dos números. Uma cantora pode ter muito mais seguidores do que outra nas redes sociais, mas seu sucesso real será medido pelas vezes em que suas músicas são tocadas nas plataformas de streaming, público presente em shows, venda de ingressos. A cantora Juliette tem sete vezes mais seguidores que o beatle Paul McCartney, e alguém tem dúvida sobre qual dos dois é mais famoso?

Voltando aos jogadores do São Paulo, o estrondoso alcance de James Rodríguez chama atenção diante dos seus companheiros de clube. Rafinha, capitão do time com uma carreira absolutamente consolidada e vitoriosa, tem 4,1 milhões de seguidores. Outros comparativos impressionam e nos levam a questionar até que ponto essa fama de Instagram é real. James tem 2,7x o número de seguidores do Flamengo. Seria o jogador mais famoso que o Clube de Regatas Flamengo? Acho que não.

Nessa semana, em uma entrevista muito lúcida, o volante Luiz Gustavo explicou o motivo de não ter contas nas redes sociais. Astro brasileiro reconhecido mundialmente com passagem pelo Bayern de Munique, longa trajetória na Seleção Brasileira, uma coleção de títulos e nenhum seguidor. Ele contou que chegava a ser pressionado por colegas para ter um perfil na rede, pois jogar ao lado de Cristiano Ronaldo (621 milhões de seguidores) no Al Nassr, da Arábia Saudita, representava uma “oportunidade”. Hoje no São Paulo, Luiz Gustavo explica seus motivos: “Você consegue potencializar o seu trabalho no que você gasta mais tempo. Se o celular tira o tempo de você focar na sua recuperação ou no seu treino, não te faz tão bem. Se você consegue equilibrar, beleza. Se não, tem que tomar uma decisão”.

Texto publicado originalmente na edição de 16.02.2024 do jornal A União.

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