Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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A morte de Kirk não foi pelas diferenças
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Foto: Reprodução YouTube – Canal Turning Point

O mundo humanizado ficou chocado com a morte de Charlie Kirk, um influenciador e ativista político estadunidense. Kirk ficou conhecido pela defesa do uso de armas e pautas ultraconservadoras. Chegou a afirmar em discurso: “Infelizmente, vale a pena arcar com o custo de algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos ter a Segunda Emenda”. A segunda emenda da Constituição dos Estados Unidos é um texto de 1791, que afirma o direto de manter e portar armas.

O assassinato de Kirk é dos momentos trágicos que o mundo tem presenciado recentemente, em decorrência da intolerância que tem sido propagada de forma veemente. Os ataques a negros, transgêneros, latinos, palestinos e outras minorias nos Estados Unidos sempre foram temas recorrentes entres os conservadores como Charlie Kirk. O emprego da violência com mortes é justificativa utilizada nessa empreitada moralista de resgate de valores e liberdade para propagar preconceitos.

Por mais que se tente dizer que a defesa desses temas estava no campo dos debates, inclusive públicos, não é razoável que a defesa do uso de armas, ou a propagação do racismo tenha algum viés humanitário ou de condução à paz. O fascismo não se configura apenas quando a violência é praticada de forma direta, mas desde o momento que qualquer ideia é defendida, principalmente quando se tem a notoriedade como avalista.

Não podemos isentar de responsabilidade quem defende a morte como aceitável, mas não chegou a matar. Quem trabalha em prol de armas é responsável por estabelecer a conduta como justificável, na maioria das vezes com o falso discurso do direito a autodefesa, mesmo que isso represente risco a coletividade.

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Logo, quando alguém afirma que Charlie Kirk foi assassinado por pensar diferente, mente e manipula de forma vil. Kirk foi assassinado por alguém que pactuava de valores como os dele, em que a venda e uso de armas é um direito. Certamente, não imaginava que seria alvo de uma arma vendida com sua concordância e defesa.

Num momento como esse, seria louvável que os defensores do armamentismo pensassem no quão nociva é a propagação do uso de armas, que geralmente vem atrelado a preconceitos de classe e a minorias marginalizadas. Foi esse pensamento que disseminou e autorizou o ódio como prática social. Isso está presente nas políticas imigratórias, no extermínio de palestinos e em qualquer forma de preconceito que estabelece quem é aceito ou não socialmente.

O que aconteceu com Kirk é a expressão máxima da banalização da defesa da vida, um valor que deveria ser universal e indiscutível. Merece total repúdio, mas não pode ser tratado como mera prática violenta, sem que sejam debatidas as responsabilidades de quem defende pautas que ferem a humanidade.

Se tivesse que utilizar uma referência histórica, em que a personalidade foi assassinada por pensar diferente, citaria Martin Luther King, que foi morto por combater o racismo e disseminar a ideia de não-violência, recorrendo à resistência pacífica e à desobediência civil como formas de derrotar as injustiças. Morreu assassinado por alguém que pensava diferente dele.

A morte de Kirk é fruto do ódio o qual ele também acreditava ser um instrumento aceitável, um direito. Porém, parece que o estado de alienação dos seus seguidores, não permite ponderar que os caminhos e valores defendidos amplificam a violência e alimentam os que consideram a vida um valor relativo e empunham uma arma com o intuito de matar.

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