Goste dele ou não, Zico é um dos maiores nomes do futebol mundial. Por tudo o que fez e representa em campo. Não à toa é ídolo máximo no Flamengo, no futebol japonês, e só não é absoluto no Brasil por conta de apagamentos históricos motivados por rivalidades. Eu não sou flamenguista, tampouco torço para time algum do Rio, mas reconheço o tamanho de Zico, assim como também reconheço Sócrates e Rivelino, e jamais diminuiria o valor de um ou outro só porque jogaram em time rival do meu. Dito isto, afirmo sem medo de errar que Zico está no patamar das figuras públicas que quando abrem a boca para falar, o mundo para e ouve.
Pois bem, parei para ouvir nesta semana. E grande foi minha surpresa. O ídolo da Nação Rubro-negra, em discurso vibrante, endereçado aos torcedores, mas também à Organização das Nações Unidas, declarou que o Flamengo requer oficialmente que a ONU reconheça a torcida do clube como a primeira “Nação simbólico-cultural” do planeta.
“Se fôssemos um país, teríamos a 36ª maior população do mundo. Somos mais de 45 milhões de pessoas unidas sob uma mesma bandeira, por uma mesma cultura e por um mesmo sentimento que atravessa gerações”, disse Zico, em pronunciamento.
Em um primeiro momento achei sensacional. A Nação Rubro-negra é realmente gigante. De fato é um país dentro do Brasil. Basta olhar nas ruas, nos dias seguintes às vitórias do Flamengo sobre um rival, como ficam as cidades. E diferentemente de outros clubes, que detêm maior influência em seus estados de origem, o Flamengo está em todo o país. Muito também por conta do trabalho de mídia e do empurrão da TV aberta, construção essa que até hoje sacrifica clubes pequenos de todas as regiões brasileiras, mas este é outro problema. Atentemos à realidade posta: a ‘nação’ existe.
Terminei de assistir ao pronunciamento de Zico com um sorriso no rosto, concordando com ele, até me dar conta de que não era mera ação de marketing. O Flamengo realmente pleiteia o reconhecimento da ONU. Mas santa paciência! É como se a ONU não tivesse mais o que fazer. Trata-se de uma organização que defende direitos das pessoas do mundo inteiro e vem sendo atacada e desrespeitada nos últimos anos. O caso mais flagrante é o genocídio praticado por Israel contra o povo de Gaza, principalmente crianças. A ONU clama por ajuda dos países, porém muitos, como os Estados Unidos, dão de ombros e preferem fomentar guerras.
Zico e o Flamengo poderiam fazer muito mais pela humanidade se convidassem a Nação Rubro-negra para um compromisso em defesa das crianças. O Unicef, fundo das Nações Unidas para as Crianças, mantém diversos programas que auxiliam os pequenos pelo mundo. Enquanto pede reconhecimento internacional da ONU, o Flamengo luta na Justiça brasileira contra as famílias dos meninos vítimas do trágico acidente no Ninho do Urubu.
A Nação Rubro-negra existe. Não reconhecê-la é fechar os olhos para o mundo. Ao mesmo tempo, a ONU, apesar de não ser devidamente respeitada pelos países como deveria, também não é brincadeira. Se o Flamengo quer ser tão grandioso, una forças para que nenhuma criança sofra no mundo. Isso sim é tornar-se uma nação gigante. O mínimo para um clube com a mancha que carrega.
Texto publicado originalmente na edição de 12.09.2025 do jornal A União.