Mãe, mulher, jornalista e repórter da TV Câmara de João Pessoa. Escritora de crônicas nunca publicadas.
Mãe, mulher, jornalista e repórter da TV Câmara de João Pessoa. Escritora de crônicas nunca publicadas.
Depois de 2020, descobri que afeto e altruísmo são potentes
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A partida de um enfermeiro que ajudou a salvar as primeiras vidas no começo da pandemia. O fechamento da sua banca de revistas favorita. Um compromisso virtual com Teresa Cristina. Uma janela que virou Sua Majestade. Os prioritários sendo vacinados. A mais nova edição de um reality.

Alguém disse que o o perigo está no excesso.

Escrever em tempos de pandemia é quase tão desafiador quanto ficar refém das séries da Netflix. Escolher exige coragem e alguma sensatez. Quantas neuroses ainda terei que enfrentar? Quantas sessões de análise? Quantas cidades que não visitei? Quantas pessoas e suas histórias terei o prazer de conhecer? O inglês que eu nem aprendi? Quantos manuais, livros, filmes, idiossincrasias?

Nesse universo de tantas informações em que estamos imersos, o que passa por você é quase sempre indiscutível, mas até que ponto você se questiona sobre isso? Até que ponto esse universo te representa? E pra onde olhar quando acordar? Por qual jornal começar? Quem vai estar ao meu lado nos próximos dias? Quem vai fazer o café? Meus filhos?

Fez um ano.

Um ano sem ir ao teatro, ao cinema, sem sair pra dançar, sem usar o banheiro químico e tomar aquela cerveja quente na ladeira da General Osório, sem assistir a um show do Seu Pereira e Escurinho no Espaço Cultural, conhecer um desconhecido, dividir um cigarro, vodka e calçada no fim da festa. Um ano de abstinência da vida.

Já movimentei algumas peças de xadrez, nem todas na direção certa, mas nesse jogo que é a vida, só existe agora uma chance de enxergar o futuro: a tão sonhada vacina. E não vale piscar, nem olhar pro lado.

Eu gosto do BBB, mas não sei se gosto de gostar. Não estou vendo o reality. Quer dizer, “não estou vendo” não significa dizer que não estou acompanhando o que acontece – seria hipocrisia minha -, até porque não estou em Marte, e neste ano hipotético que se tornou 2021 é impossível fugir das redes sociais, dos jornais e das discussões excitantes em torno dos personagens dessa novela.

As pessoas estão sempre prontas para apertar o botão do cancelamento, seja no corredor da firma, na salinha do café, ou no natal em família. Não discuto estruturas de poder a respeito de programas de TV, isso passa uma falsa intelectualidade e me distancia de realities incríveis, ou até mesmo maçantes, mas a discussão aqui é pra fora dos formatos e fora da caixa também.

Não sei se porque cheguei aos 37, ou por estar mais sensível em meio a essa cólera, ou porque me separei e tive que enfrentar sozinha tudo isso. Mas eu não tenho tido espaço pra bestialidades. Eu quero é amar e nem precisa ser amor de verdade. Pode ser só combinado, como disse o Caetano.

No começo da pandemia, uma amiga de trabalho perdeu o irmão que era enfermeiro e estava na linha frente no combate a esse vírus em um hospital na região metropolitana de São Paulo. Meses depois, ela perdeu o pai, e depois outro irmão. Uma tragédia sem anúncio. Quero deixar aqui escrito que o afeto e o altruísmo são potentes. O esfacelamento dessa família daria uma coluna inteira, assim como a Viña Del Mar, banca de revista que conheci ainda menina quando vim morar em João Pessoa e que encerrou sua trajetória sem que eu nem pudesse me despedir levando pra casa a minha Piauí do mês. Como eu queria respirar mais uma vez aquele oxigênio e agradecer pelas revistas e jornais impressos que levei pra casa nas manhãs de domingo.

Da janela do meu novo apartamento alugado, ouvindo Moraes Moreira e vendo as pessoas voltarem às ruas, minha filha voltar à escola, consigo fazer planos para o futuro quando recebo uma DM do meu mais novo melhor amigo e editor desta coluna que agora exibo, orgulhosa, na minha lista de contatos de WhatsApp e e-mail. Quem tem tempo pra Karol Conká quando se tem Teresa Cristina cantando todas as noites, e esse amigo pra te dizer que você carrega o coração nas ponta dos dedos quando escreve. Antônio Maria tinha uma frase linda sobre o que ele queria pra vida: escrever com os dois dedos e amar com a vida inteira. Aliás, acho que esse é um bom plano pra essa semana.

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