Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
O olhar para os mercados públicos e o cuidar da cidade
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Prefeito Cícero Lucena na autorização para licitação da reconstrução do Mercado do Rangel (Foto: Divulgação/PMJP)

Sou filho de feirante. Meu padrasto, que me criou como filho desde os meus 5 anos de idade e hoje o tenho como pai, era açougueiro no Mercado Central de João Pessoa. Na carreira já havia passado por outras feiras na cidade, como Oitizeiro e Cruz das Armas, até chegar no local onde se firmou e trabalhou por mais de 20 anos.

A rotina começava muito cedo, por volta das 3h. Recebia o “boi” para tirar parte dos ossos, separar os cortes, e estar com tudo pronto para os primeiros clientes que chegavam já com o raiar do dia. Eu acompanhava essa lida do ponto de vista de casa, pois muitas vezes o via saindo. Nas quintas e sextas, com movimento maior nos dias seguintes, a ida acontecia pouco depois da meia-noite. Vez por outra o visitava quando saía da escola, que ficava no Centro da cidade, e assim conheci diversas pessoas que trabalhavam por lá.

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Apesar de não me interessar por seguir a carreira do meu pai, sabia de onde vinha o sustento da nossa família. E se tive alguns privilégios, muitos são resultados do seu trabalho na feira.

A realidade hoje para os feirantes é ainda mais difícil do que já foi, pois eles concorrem com supermercados que oferecem todos os tipos de produtos e muitas vezes com preços sem margem de lucro, só para atrair o consumidor à compra de um e fazer com que ele leve mais outro.

Vi de perto esse processo, desde redes de açougues se espalhando pela cidade até a chegada dos grandes supermercadistas. Hoje meu pai não trabalha mais, porém o mercado segue vivo, e tão importante quanto outrora.

Por motivo de os produtos serem melhores? Sim, são, mas não é só isso. Um mercado público faz girar a microeconomia da cidade, e assim como a minha família se sustentou com a feira, muitas outras se sustentam ainda hoje com serviços que só existem lá. Comprar hortaliças frescas e na saída comer um cuscuz com bode guisado, por exemplo, eu duvido que se consiga em um supermercado.

Os mercados públicos abrigam negócios, obviamente, mas para a cidade, são muito mais que isso. Um mercado público é também espaço de convivência, lugar de comprar, estar e viver. Assim, a feira ultrapassa os limites da simplória relação de compra e venda que se vê num supermercado de uma grande rede listada na bolsa de valores.

A proposta do prefeito Cícero Lucena (PP) de revitalizar todos os mercados públicos de João Pessoa dentro dos quatro anos de gestão mostra o compromisso com a preservação desses espaços históricos, assim como o cuidado com as famílias que dele dependem. Além disso, fica o incentivo para que pequenos negócios ancorados nas feiras continuem a fazer a economia da cidade girar, gerando lazer e comodidade para quem visita, renda e dignidade para aqueles que fazem o mercado público.

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