Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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Pelé
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Foto: Acervo CBF

Certa vez o escritor Mia Couto escreveu um artigo que fazia o seguinte questionamento: E se Obama fosse africano? O texto teve origem após a vitória de Barack Obama para presidência dos Estados Unidos, quando africanos de diversas nacionalidades se manifestaram como se a vitória fosse de todos eles. 

Mas Mia Couto fez uma leitura nada ufanista e lembrou que, provavelmente, um político com as características de Obama não teria sucesso na África de tantas ditaduras, onde opositores são eliminados e os direitos humanos desrespeitados. Com poucas exceções, a vitória festejada por milhões de africanos seria impossível em seus próprios países. Porém, é inegável que um negro chegar à presidência dos Estados Unidos produz efeitos que vão além da realidade política dos “irmãos africanos”.

Mas esse texto é sobre o Pelé, o mais poderoso homem negro que já existiu. Se alguém já o questionou por não ser um militante político engajado em debates ideologizados, não tem a dimensão do que é ser negro de pele escura, cabelo crespo, filho de negros, nascido num país que escravizou os negros e se tornar a personalidade mais incontestável e reverenciada no mundo.

Pelé é universal, ecumênico e insuperável. Ninguém transitou mais pelo mundo que ele. Nenhum líder político foi capaz de ser recebido por tantas nações com deferências destinadas a chefes de estado. Todos, absolutamente todos, queriam chegar perto de Pelé pela sua genialidade, por quebrar a hegemonia branca e se portar sempre de forma majestosa.

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Quem lhe acusou de omisso em relação a ditadura militar brasileira, ou por ter casado com mulheres brancas e loiras, como se fossem pecados imperdoáveis, não teve capacidade de perceber que o negro Pelé era adorado, respeitado e sua grandiosidade foi capaz de fazer racistas se curvarem e ditadores se renderem.

Quem seria capaz de circular pelo mundo numa era analógica, sem a difusão das mídias digitais e ser reconhecido por todos? Quem foi capaz de fazer uma guerra civil cessar para que todos lhe assistissem em paz? Quem transformou seu show particular maior que o próprio jogo, ao ponto de um juiz ser expulso por ter lhe mandado sair de campo? Só Pelé tem tantas histórias épicas.

O Brasil de tanta desigualdade, com tantos ataques aos direitos humanos, só ganhou visibilidade internacional por conta de um negro, um negro brasileiro. Se ainda tem quem duvide da sua importância política, do seu papel contra o racismo, o mundo hoje mostra que sua dimensão é capaz de ofuscar até os preconceitos. O garoto negro pobre que nasceu Edison, deu sua maior contribuição para humanidade ao se transformar em Pelé.

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