Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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O futebol é um microcosmo fascista
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Foto: reprodução Instagram

O mundo assistia a partida entre Real Madrid e Valencia pelo campeonato espanhol, quando torcedores fizeram coro com agressões ao jogador brasileiro Vini Jr. Chamavam o atleta de macaco e faziam ameaças de cunho racista, como se estivessem numa arena romana, em que a vitória seria atribuída a quem acabasse com a vida do oponente.

A partida seguiu em meio aos ataques. O sistema de som do estádio em Valencia alertou para a possibilidade de suspensão em decorrência dos gritos racistas entoados pelos torcedores. Em momento algum vimos uma atitude de empatia ou revolta coletiva por parte dos jogadores, dos dirigentes dos clubes, dos árbitros ou dos torcedores. O show não podia parar. Pregar por valores humanitários pouco importava, ainda mais quando a presa a ser abatida era um homem negro.

Os ataques racistas sofridos por Vini Jr passaram a ser uma rotina. Já chegaram ao ponto de pendurar um boneco enforcado vestido com sua camisa numa ponte em Madri, numa clara menção aos muitos assassinatos que negros sofreram em decorrência do racismo ao longo da história. Não são manifestações tímidas ou contidas, o futebol é palco reprodutor do que de pior existe na humanidade, com a conivência de quem participa desse espetáculo de barbaridades.

Situações como essa por que passou Vini Jr não são exclusividade do campeonato espanhol. Certamente, por ser a estrela do maior clube de futebol do mundo o caso assume proporções maiores. Mas a prática do racismo e outras formas de preconceitos e crimes contra a humanidade fazem parte do cotidiano do futebol em todo planeta.

Um esporte onde seu rei era um negro não foi capaz de aprender que não existe superioridade racial ou de gênero. Isso é preconceito. Expressão maior da desumanidade. Mas a barbárie que sustenta o espetáculo do futebol é reflexo do pequeno mundo fascista que se criou em torno do esporte mais popular da Terra. Como se fosse uma zona de exclusão, acumula crimes de racismo, machismo e homofobia.

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Para mim, é estranho alguém se espantar que crimes como o sofrido por Vini Jr aconteçam dentro do futebol. O ambiente é o mais propício. O que mais se pode esperar de um esporte que realiza sua maior competição no Qatar? Um país que vive uma ditadura e promove ataques ao ser humano de forma institucionalizada. Morreram mais de 6500 trabalhadores durante as obras da Copa em decorrência das condições de trabalho e regime que beira a escravidão. A Fifa que se omite em relação ao racismo contra Vini Jr é a mesma que pouco se importou com esse genocídio promovido em nome do seu show de bilhões.

O futebol virou um propagador do fascismo. Seja pelo pequeno clube que promove ações machistas para levar mulheres aos estádios, como se fossem parte do produto que vendem, até o maior clube do mundo, que diante dos ataques racistas que sofreu sua maior estrela, age de forma branda e não tem uma postura contundente de se opor ao racismo. 

O mínimo que se poderia esperar de um episódio como o sofrido por Vini Jr era a solidariedade de todos os envolvidos, com a recusa de continuarem a jogar para uma plateia de criminosos, que estava ali para ver o extermínio de um ser humano. Qualquer outra postura que permita a continuidade desse show sem punição efetiva é uma demonstração de conivência. O fascismo não pode ter espaços de preservação. Os interesses econômicos do futebol não podem sobrepor valores humanitários e encobrir crimes contra a humanidade.

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