Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
O garimpo Yanomami
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(Foto: Divulgação/Força Aérea Brasileira)

As últimas notícias vindas do Roraima não são sobre os gastos do cartão corporativo do ex-presidente Bolsonaro em suas andanças pelo estado, mas sim da grave situação dos povos Yanomamis na região. Depois que se iniciou a apuração dos gastos no cartão corporativo do ex-presidente, descobriu-se, por exemplo, que em um único dia de visita ocorrida em Outubro de 2021 foi gasto aproximadamente 164 mil reais no Roraima. Entre os gastos estão despesas com lanches e marmitas, além de despesas em hotéis. Em um restaurante chamado Sabor da Casa, o gasto foi de R$109.266.

Muitos lerão as últimas frases e dirão: “como foram os gastos dos outros presidentes?” Apego-me aqui a uma questão: e se todo este gasto tivesse sido para ajudar a situação dos Yanomamis? As cenas e imagens que vieram do Roraima chegam a ser chocantes. Mas o apelo feito ao governo não foi atendido, pelo contrário, Bolsonaro viajou pelo país promovendo motociatas durante a pandemia, campanha no período pré-eleitoral e, mesmo indo ao Roraima, ignorou o que ocorria aos Yanomamis.

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Desde 2017 que o Ministério Público Federal vem insistindo junto ao governo federal sobre o avanço do garimpo, que atingiu pico em 2021 e 2022. Em 2021, após sucessivas denúncias, o STF determinou a proteção dos povos Munduruku e Yanomami. A corte deliberou favoravelmente a pedido feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil pela retirada de invasores. Em 2022 ocorreu uma paralisação das operações, o que favoreceu invasões principalmente na região de Surucucu, de onde vieram as crianças desnutridas. Arrebatados pelo desmatamento criminoso, por invasões e por incêndios, os povos padeceram sem políticas de saúde e educação. A própria FUNAI foi desmontada na medida em que muitos profissionais comprometidos com a causa indígena foram silenciados, afastados ou escanteados das tomadas de decisões. Eu mesmo já havia debatido isto neste espaço, no texto: “Índios: do Marechal ao Capitão”.

Vi algumas postagens nas redes como: “meu voto salvou vidas!”, fazendo uma alusão ao novo governo que se mostrou solidário e prometeu intervir no Roraima para socorrer os povos. Outras denunciando o ex-presidente como responsável direto pela crise humanitária no Roraima, sugerindo que o Tribunal Penal Internacional precisa avaliar tais evidências contra Bolsonaro. O fato é que, depois de todo o apurado até o momento, não parece mais exagero afirmar que a política de Bolsonaro foi, literalmente, genocida…

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