Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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Tanto Chico
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Foto: Ricardo Stuckert/Presidência

Costumo brincar quando estou em Portugal que adoro aquele país porque foi o único que o Brasil colonizou. Impressiona como se sabe tanto do nosso país, como consomem tanto da nossa cultura e como acompanham nosso cotidiano com olhar atento.

Não enxergo rivalidade, muito menos sentimento de posse perdida. O português olha para o Brasil com aspiração. É verdade que existem alguns preconceituosos. Mas também temos brasileiros xenófobos, capazes de tratar nordestinos de forma pejorativa e violenta.

Entretanto, se os portugueses observam o Brasil com atenção, o mesmo não acontece no sentido inverso. Para muitos brasileiros, Portugal é, principalmente, uma rota de fuga. Um país na Europa que fala a mesma língua, onde não se esbarra com as mazelas da pobreza a cada passo dado.

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Portugal foi capaz de enxergar em meio ao golpe que depôs Dilma Rousseff da presidência, a genialidade de Raduan Nassar, um altruísta autêntico, e lhe conferir o prêmio Camões com destaque e honras que nunca teve no Brasil. Alguns dirão que o prêmio é também do Brasil. Mas não tenham dúvida, que foi irrelevante para os brasileiros quando a homenagem foi feita a Saramago, ou a Sophia de Mello Breyner.

Ao contrário dos brasileiros, os portugueses têm a capacidade de aprender e apreender o que temos de melhor. Enquanto em 2019, o Brasil foi dividido por um governo fascista, Portugal festejava a escolha de Chico Buarque para receber o prêmio Camões.

Quis o destino que a festa fosse ainda mais bonita, pá. Como disse Chico, foram quatro anos de uma interminável espera. E o raro gesto de “fineza” de Bolsonaro, permitiu que o prêmio conferido ao nosso maior compositor popular fosse assinado por Lula. Se há léguas a nos separar, Portugal estampou em seus principais veículos: “De Camões para Chico Buarque, uma língua comum em festa”.

Não poderia ter dia mais perfeito para comemorar o maior prêmio da língua portuguesa, nem autor mais justamente homenageado. O nosso Chico que guardou renitente um velho cravo, não hesitou em expor nos momentos mais difíceis da história do nosso país. Em pleno 24 de abril, véspera da comemoração dos 49 anos da Revolução dos Cravos, podemos cantar a primavera portuguesa, nos impregnar do cheiro de alecrim e da poesia de Chico que tanto estávamos carentes.

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