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Ações da Hapvida (HAPV3) desabam mais de 40%; JPMorgan reajusta preço-alvo e rebaixa indicação
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As ações da Hapvida (HAPV3) despencaram passando de 40% de queda no pregão desta quinta-feira (13), após resultados do terceiro trimestre (3T25) considerados muito abaixo das expectativas do mercado. A operadora de saúde reportou lucro líquido de R$ 338 milhões, pressionado por sinistralidade elevada e fluxo de caixa livre negativo, levando o JPMorgan a cortar a recomendação para neutra e reduzir o preço-alvo de R$ 52 para R$ 39.

Dívida líquida da Hapvida fechou o trimestre em R$ 4,250 bilhões, montante 3,7% maior do que o reportado um ano antes
Dívida líquida da Hapvida fechou o trimestre em R$ 4,250 bilhões, montante 3,7% maior do que o reportado um ano antes (Foto: Divulgação/Hapvida)

A dívida líquida fechou o trimestre em R$ 4,250 bilhões, montante 3,7% maior do que o reportado um ano antes. Com isso, a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) , ficou em 1 vez, aumento de 0,01 vez em relação ao mesmo intervalo do ano anterior. No terceiro trimestre a sinistralidade caixa alcançou 75,2%, aumento de 1,3 ponto porcentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior, refletindo a maior utilização sazonal e o ramp-up de novas unidades.

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O Goldman Sachs ressalta que o Ebitda ajustado recorrente foi de R$ 613 milhões (excluindo R$ 133 milhões em diversos eventos não recorrentes), uma queda de 20% em relação ao trimestre anterior e 27% abaixo da estimativa geral. O banco aponta a margem Ebitda ajustada recorrente fraca (7,9% versus 10,7% da estimativa geral), explicada por uma piora de 1,4 ponto percentual na MLR (ou índice de sinistralidade médica) em relação ao trimestre anterior (0,8 ponto percentual na estimativa geral). Isso ocorreu devido a efeitos sazonais piores do que o esperado, custos fixos mais altos após a abertura de unidades hospitalares e ambulatoriais e maior frequência geral, juntamente com despesas administrativas e de vendas mais fracas.

Além disso, houve fluxo de caixa livre negativo (medido pelo aumento da dívida líquida em relação ao trimestre anterior) de R$ 234 milhões. Já as adições líquidas ficaram negativas em relação ao trimestre anterior de 24 mil beneficiários na região metropolitana de São Paulo (embora o resultado consolidado tenha sido de +13 mil), sugerindo uma concorrência ainda acirrada nessa região e atritos persistentes com os clientes após a implementação de novos sistemas operacionais.

O BTG Pactual ressaltou que a Hapvida apresentou resultados muito fracos no 3T, aumentando o risco sobre a tese, com combinação de fatores desafiadores: MLR muito acima do esperado, fluxo de caixa livre fraco, crescimento orgânico abaixo do esperado, SG&A (despesas de vendas, gerais e administrativas) mais elevado, contingências maiores e múltiplos itens não recorrentes, resultando na queda anual de cerca de 20% do Ebitda ajustado. Dos resultados negativos, 25% vieram do MLR, 10% de despesas comerciais e 65% de G&A (principalmente provisões).

A receita líquida cresceu 6% anualmente, para R$ 7,78 bilhões, 1% abaixo do esperado, e diversos efeitos contábeis foram excluídos no cálculo do Ebitda ajustado, totalizando impacto positivo líquido de R$ 98 milhões. Mesmo assim, o Ebitda ajustado foi de R$ 613 milhões (-20% ano a ano e baixa de 25% versus as estimativas do BTG), com margem de 7,9%, similar ao nível pós-fusão com a GNDI. O resultado financeiro foi pressionado por efeito líquido negativo de R$ 13 milhões do acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde), elevando a despesa financeira em 36% anualmente.

O lucro líquido ajustado foi R$ 204 milhões (-34% versus o esperado), enquanto o resultado contábil foi prejuízo de R$ 57 milhões. O MLR aumentou 140 pontos-base anualmente (ou 1,4 ponto percentual) e 1,30 ponto percentual trimestralmente, enquanto o crescimento líquido de beneficiários foi de apenas 13 mil vidas, abaixo das 44 mil projetadas. O fluxo de caixa livre (FCF) pós-capex foi negativo em R$ 52 milhões, e a dívida líquida subiu para R$ 4,2 bilhões, com alavancagem de 1,0 vez.

“Cortamos as estimativas oficiais de Ebitda para 2026 em 20% e mantivemos recomendação de compra, mas com menor confiança, reduzindo o preço-alvo de fim de 2026 para R$ 50 (ante R$ 67)”, aponta o BTG.

O JPMorgan foi mais longe e, além de cortar o preço-alvo, de R$ 52 para R$ 39, rebaixou a recomendação de overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para neutra. O banco americano reforça que a Hapvida reportou resultados fracos e abaixo das expectativas para o 3T25. O lucro por ação ajustado de R$ 0,22 representou uma queda de 38% em relação ao ano anterior, ficando 31% abaixo da estimativa do JPMorgan e 60% abaixo do consenso da Bloomberg. O resultado abaixo do esperado foi impulsionado por fatores operacionais (Ebitda ajustado ficou 30% abaixo das expectativas do JPMorgan e das do mercado), refletindo uma combinação de adições líquidas limitadas, tíquetes abaixo do esperado e MLR/sinistros per capita acima do previsto, em função do aumento da disponibilidade de serviços com o fortalecimento da rede própria e da sazonalidade negativa mais acentuada do que o normal, marcada por um inverno mais frio e atraso na disseminação da virose.

“Em nossa opinião, o mercado deve reagir negativamente aos resultados, visto que algumas pressões reveladas nos números do 3T25 provavelmente persistirão pelo menos durante a maior parte de 2026. Por um lado, estão sendo realizados os investimentos estruturais necessários para lidar com as restrições de capacidade, reduzir o volume de reclamações e melhorar a percepção da qualidade do serviço, visando uma trajetória de crescimento mais sustentável. Por outro lado, a empresa não está colhendo os benefícios disso, pelo menos por enquanto, já que as adições líquidas permanecem limitadas, com alta taxa de cancelamento persistente e preços restritos”, avalia o JPMorgan.

Já o resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado foi de R$746,4 milhões, recuo de 17,6% sobre o terceiro trimestre do ano passado. Além disso, o cenário competitivo não é dos melhores, com a Amil mantendo uma postura comercial mais agressiva em São Paulo, impondo grandes obstáculos aos planos de crescimento da Hapvida e à recuperação da alavancagem operacional, além de obscurecer a visibilidade de curto e médio prazo. Dito isso, a recuperação da lucratividade impulsionada por maiores volumes e tíquete médio deve ocorrer no final do ano, sugerindo uma curva de melhoria da margem Ebitda mais lenta.

Com informações do portal InfoMoney.

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