O auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto, acusado pelo Ministério Público de São Paulo de orientar o esquema de corrupção envolvendo as varejistas Ultrafarma e Fast Shop, tem um salário superior a R$ 30 mil. Artur recebeu R$ 33.781,06 em junho, conforme dados do Portal da Transparência do governo estadual. Ele é auditor fiscal concursado da Secretaria da Fazenda e Planejamento de São Paulo. Após descontos, seu salário líquido no mês foi de R$ 25.556,04.
A Secretaria da Fazenda de São Paulo informou que abriu um processo administrativo contra Artur e Marcelo de Almeida Gouveia, outro auditor preso na operação. O órgão afirmou à reportagem que investigará, com rigor, as condutas dos servidores envolvidos. As defesas de Artur e Marcelo não foram localizadas para comentar o caso.
O empresário Sidney Oliveira, fundador da Ultrafarma, e o executivo da Fast Shop, Mario Otavio Gomes, foram presos temporariamente em uma operação contra favorecimento de empresas varejistas mediante propinas em São Paulo. Sidney foi detido em uma chácara em Santa Isabel, na Grande São Paulo, enquanto Mario foi preso em um apartamento na capital paulista, conforme confirmado pelo Ministério Público de São Paulo, que conduz a operação.
Dois fiscais de alto escalão da Secretaria da Fazenda, Artur e Marcelo, também foram presos por suspeita de movimentarem R$ 1 bilhão em propinas. Eles são acusados de facilitar pedidos de crédito tributário para empresas, segundo o MP. Artur teria o papel de “dar o caminho das pedras” para o esquema, enquanto Marcelo o auxiliava. Outros dois suspeitos, Celso Éder Gonzaga de Araújo e sua esposa, Tatiane Araújo, foram presos temporariamente por supostamente ajudarem a lavar o dinheiro do esquema. Na casa do casal, as autoridades encontraram sacos de pedras preciosas e mais de R$ 1 milhão em dinheiro, conforme informações preliminares. O Ministério Público classifica o casal como estelionatários.
O esquema, que operava desde 2021, envolvia empresas contratando uma companhia de fachada registrada em nome da mãe de Artur, segundo o MP. A empresa, supostamente usada para serviços tributários, era orientada por Artur, que preparava documentos para as empresas enviarem à Secretaria da Fazenda, agilizando pedidos de ressarcimento de créditos mediante pagamento de propina. Marcelo de Almeida Gouveia atuava na “ponta” do esquema, conforme a investigação. O MP também solicitou a suspensão de suas funções públicas. Um terceiro auditor, investigado pelas mesmas práticas, aposentou-se em janeiro deste ano e foi alvo de mandados de busca e apreensão, segundo o MPSP.
A empresa Smart Tax, ligada à mãe de Artur, chamou a atenção do MP por uma movimentação financeira “repentina”. De acordo com o promotor João Ricupero, até junho de 2021, a empresa não registrava atividades operacionais ou clientes, mas, a partir do segundo semestre de 2021, passou a receber dezenas de milhões de reais da Fast Shop. A quebra de sigilo financeiro revelou transferências superiores a R$ 1 bilhão para a conta da empresa desde então.
A defesa de Sidney Oliveira informou que ainda não acessou o processo e está se inteirando do caso. O advogado Fernando Capez afirmou que o cliente firmou um ANPP (Acordo de Não Persecução Penal) com o Ministério Público recentemente e quitou os tributos apontados como devidos pela Fazenda, sem questionar o valor. A Fast Shop declarou que colabora com as autoridades, mas não teve acesso ao conteúdo da investigação. A reportagem tentou contato com a Smart Tax, supostamente usada para lavagem de dinheiro, e com a defesa de Mario Otavio Gomes, sem sucesso. A Secretaria da Fazenda informou que solicitou a abertura de um procedimento administrativo para “apurar, com rigor, as condutas dos servidores”. Os investigados podem responder por crimes como corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Reportagem do portal Uol.