Um bombardeio duplo realizado por forças israelenses contra o hospital Nasser, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, na segunda-feira (25), resultou na morte de pelo menos 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas de veículos como Reuters, Associated Press e Al Jazeera. O ataque, descrito como um “double tap” – prática que atinge equipes de resgate, jornalistas e civis após um primeiro bombardeio –, pode configurar crime de guerra segundo a Terceira Convenção de Genebra de 1949, devido ao ataque a alvos protegidos pelo direito internacional.
O hospital Nasser, o único ainda em funcionamento na região, foi atingido por dois mísseis em sequência, com poucos minutos de intervalo entre os ataques, segundo testemunhas relatam à Reuters. O segundo bombardeio ocorreu enquanto equipes de resgate e jornalistas estavam no local, atendendo às vítimas do primeiro ataque. Vídeos gravados por jornalistas registraram o momento do segundo impacto, com imagens interrompidas por uma nuvem de poeira. Um cinegrafista da TV local Alghad também filmava o local atingido pelo primeiro ataque quando a nova explosão ocorreu.
Israel confirmou o bombardeio, alegando que suas tropas identificaram uma “câmera posicionada pelo Hamas” na área para monitorar suas forças. O Exército israelense lamentou “qualquer ferimento entre pessoas não envolvidas”, mas não esclareceu quem era o alvo do ataque, afirmando apenas: “Deixe-me ser claro: as Forças de Defesa de Israel não miram civis”, segundo um porta-voz. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou o ocorrido como um “acidente trágico”.
Entre as vítimas, cinco jornalistas foram mortos, incluindo um freelancer da Reuters, outro da Associated Press e dois da Al Jazeera. A Reuters confirmou a morte de Hussam al-Masri e informou que o fotógrafo Hatem Khaled, também contratado pela agência, ficou ferido. “Estamos devastados com a notícia da morte do contratado da Reuters Hussam al-Masri e dos ferimentos de outro de nossos contratados, Hatem Khaled, em ataques israelenses ao hospital Nasser, em Gaza, hoje. Estamos buscando urgentemente mais informações e pedimos às autoridades em Gaza e em Israel que nos ajudem a conseguir assistência médica imediata para Hatem”, declarou um porta-voz da Reuters.
O ataque gerou forte repercussão internacional. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, maior aliado de Israel, afirmou estar “não feliz” com o ocorrido: “Não quero ver isso”, disse em coletiva na Casa Branca, reforçando apelos por um acordo para a libertação de reféns israelenses em poder do Hamas. O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o ataque como “intolerável”, destacando que “a mídia deve poder cumprir sua missão com liberdade e independência para cobrir a realidade do conflito”. A porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, transmitiu a indignação do secretário-geral António Guterres: “O secretário-Geral condena veementemente o assassinato de palestinos hoje em ataques israelenses que atingiram o Hospital Nasser em Khan Younis. Entre os mortos, além de civis, estavam profissionais de saúde e jornalistas. Esses últimos assassinatos horríveis destacam os riscos extremos que profissionais médicos e jornalistas enfrentam ao realizar seu trabalho vital em meio a esse conflito brutal”.
O Comitê para a Proteção de Jornalistas e a Associação de Imprensa Estrangeira condenaram o ataque, exigindo a responsabilização dos culpados e uma explicação imediata.
O ataque ao hospital Nasser ocorre em meio à intensificação da ofensiva israelense em Gaza, com uma operação terrestre em curso para tomar a Cidade de Gaza e o território palestino. Tanques israelenses foram vistos na fronteira na segunda-feira. Segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, mais de 240 jornalistas palestinos foram mortos por forças israelenses desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
Israel proíbe a entrada de repórteres de agências internacionais em Gaza, violando diretrizes da ONU que garantem o acesso de jornalistas a zonas de conflito. Como resultado, veículos como Reuters, Associated Press e Al Jazeera contratam jornalistas palestinos para cobrir a situação. No início de agosto, outros seis profissionais da Al Jazeera foram mortos em um ataque israelense, e o governo de Israel acusa os jornalistas do canal de integrarem o Hamas, acusação negada pela emissora.
A Defesa Civil de Gaza informou que suas equipes foram alvos de ataques israelenses pela 26ª vez durante operações de resgate. O Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, confirmou as 20 mortes e diversos feridos no bombardeio ao hospital Nasser, o maior de Khan Younis e o único ainda operacional no sul de Gaza.
Com informações do portal g1.